Ícone oriental da Virgem Maria com o menino Jesus. Como de hábito, a Virgem segura Jesus com a mão esquerda e o apresenta com a mão direita |
Vocês sabem que eu adoro um post temático, e como hoje é o dia internacional da mulher, o blog não poderia deixar de escrever algo sobre essa questão em específico.
Pois bem, o post de hoje não será muito longo, mas fará algumas considerações sobre o feminino como modelo no cristianismo antigo.
Costuma-se ouvir por aí que o cristianismo é uma religião machista que não dá valor à mulher. Este breve post tentará mostrar o contrário, pelo menos no tocante à antiguidade.
Comecemos por Maria Madalena que, ao ao longo da história, se transformou no estereótipo da pecadora arrependida, um exemplo a ser seguido por todos os cristãos. Se por um lado ela foi uma pecadora possuída por demônios (Mc 16, 9; Lc 8, 2), por outro soube amar Jesus, arrepender-se e ser perdoada, tendo sido, inclusive, agraciada com a honra de ser a primeira testemunha da ressurreição (Mt 28,1; Mc 16,1; Lc 24,10; Jn 20,1 e 18).
Pode-se apontar diversos outros modelos
femininos no cristianismo antigo, ainda nos relatos evangélicos, lê-se sobre as chamadas “santas mulheres”, que,
contrariamente à maioria dos apóstolos, permaneceram fiéis a Jesus no momento
da crucificação (Jn 19, 25) e foram as primeiras testemunhas da Ressurreição e
anunciadoras do evangelho (Mt 28, 1-10; Mc 16, 1-8; Lc 24, 1-11; Jn 20, 1-18). Tal fato, rendeu-lhes, inclusive, o epíteto de "apóstola de apóstolos", dado por Hipólito de Roma (fim do séc. II- início do séc. III) em seu Comentário sobre o Cântico dos Cânticos. Hipólito atribui esse título às santas mulheres porque um dos pilares da fé cristã é a Ressurreição; como as santas mulheres foram as primeiras a anunciarem a Ressurreição (a anunciaram aos próprios apóstolos), isso fez delas "apóstolas de apóstolos".
No Apocalipse, se por um lado há a
figura feminina negativa personificada na “prostituta escarlate” (Apoc 17, 4),
por outro há a esposa do Cordeiro (Apoc 19, 7 e 21, 9) e a mulher vestida de
sol (Apoc 12, 1-6). A partir do sec. II, o culto de mártires, tidos como modelo
por boa parte dos cristãos, se propaga por toda a cristandade, e muitos deles
são mulheres, como Inês, Cecília e Anastácia.
Mas, obviamente, nenhum modelo feminino se compara à Virgem Maria, descrita já nos relatos evangélicos de maneira positiva (Mt 1, 18; Lc 1: 26-38.42). Mas é a partir principalmente do séc.
IV, que o culto à Virgem Maria se espalha pela cristandade de maneira quase unânime, como podem
comprovar diversas fontes, como a Epístola
de Atanásio às Virgens (que elege a Virgem Maria como modelo a ser seguido por todos os que vivem o celibato) e os diversos escritos que fazem parte dos círculos
literários conhecidos como Dormitio Mariae e Transitio Mariae, que
falam, respectivamente da dormição e da assunção da Virgem. Por último, vale
destacar a decisão dogmática do Concílio de Éfeso, em 431, que reconhecia que a
Virgem Maria era a mãe de Deus, atribuindo-lhe o título honorífico de theotokos.
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