sábado, 17 de agosto de 2013

Primavera árabe ou o retorno de Diocleciano?

O imperador Diocleciano
Como esse blog destacou em um post de abril, em 2013 comemora-se o aniversário de 1700 anos do Edito de Milãoum marco na história do Cristianismo.
Cerca de 10 anos antes do Edito, em 303, teve início aquela que talvez tenha sido a maior perseguição da história do Cristianismo, a perseguição do imperador Diocleciano. O Edito de Milão acabou oficialmente com as perseguições aos cristãos, tornando o Cristianismo religião licita.

O Egito foi uma das regiões mais afetadas pela perseguição de Diocleciano, tanto que até hoje o calendário copta conta os anos a partir do "ano dos mártires", e não a partir do nascimento de Cristo. O impacto de tal perseguição no Egito pode ainda ser testemunhado por vários outros fatos, como, por exemplo, o cisma meliciano e a quantidade de textos martirológicos preservados em copta que relatam o sofrimento e a morte de mártires durante o governo de Diocleciano. Muitos desses textos são lendários e tardios, compostos a partir do séc. V, mas demonstram como  a perseguição de Diocleciano marcou a mentalidade do cristianismo Copta. 

Pois bem, exatamente 1700 anos depois do fim da perseguição mais sangrenta da história do cristianismo Egípcio, os cristãos Coptas voltam a ser perseguidos e mortos. Mas dessa vez, ao que parece, o perseguidor não é um imperador romano, mas a irmandade muçulmana.
É verdade que os coptas estão "habituados" às perseguições. Desde a conquista muçulmana em meados do séc. VII, o cristianismo sempre foi uma religião minoritária no Egito e em todo o Oriente e norte da África. Desde então, os coptas nunca tiveram vida fácil. Alguns períodos foram piores que outros, é verdade, mas isso não significa que durante esse tempo os coptas tenham tido vida fácil. Ao que parece, eles estão mergulhando em mais um desses períodos críticos.

Cristãos coptas rezam dentro do que sobrou de uma Igreja destruída pelo fogo

Por hora, as informações são imprecisas. Fala-se em igrejas queimadas e até em mortes de cristãos. Várias fotos de igrejas em chamas e incineradas têm circulado pela internet ou podem ser vistas nos noticiários. Além disso, há o problema da destruição do patrimônio cultural, já que muitas igrejas coptas foram construídas há séculos. Alguns mosteiros coptas ainda abrigam coleções de manuscritos e textos antigos e incêndios poderiam destruir para sempre esse patrimônio. É claro que isso não é nada se comparado ao extermínio de cristãos, à perda de vidas humanas; mas isso é, no entanto, um agravante, mais um problema que só serve para piorar essa situação dramática.
Igreja de Santa Maria, no Faouym

A imagem abaixo é bastante elucidativa: foi postada no twitter por um médico egípcio (@FouadMD). Trata-se de um "antes e depois" da Igreja de São Jorge, na cidade de Sohag, sul do Egito, cidade esta que fica próxima ao lendário Monastério Branco, de Shenoute.   
Imagens da Igreja em Sohag antes e depois do incêndio. 

Esperemos que a Primavera Árabe não entre para a história como a "volta de Diocleciano", exatamente 1700 anos depois do fim da perseguição por ele iniciada; e que os cristãos coptas parem de ser perseguidos e mortos, e que seus locais de culto, muitos deles patrimônios históricos, parem de ser destruídos e incinerados.