Na semana passada, fui entrevistado pela jornalista Maria Fortuna, do 'Segundo Caderno', do Jornal O Globo.
Diante de toda a polêmica causada pelo especial de Natal do Porta dos Fundos e pelo enredo de 2020 da Mangueira, a jornalista escreveu uma matéria abordando as polêmicas que surgiram a partir disso.
E para tal, ela me entrevistou.
Na matéria propriamente dita, ela citou apenas um parágrafo do que eu disse.
Assim sendo, resolvi postar a íntegra das minhas respostas aqui no blog - para não deixar dúvidas sobre o que eu disse - e mais tarde farei um vídeo.
OBS: a parte entre aspas do título desse post nada mais é que a citação literal da matéria em questão.
OBS 2: Minhas respostas são típicas de um historiador. Eu estou preocupado tão comente com o caráter histórico da questão.
OBS 2: Minhas respostas são típicas de um historiador. Eu estou preocupado tão comente com o caráter histórico da questão.
Esse é o link da matéria e, logo abaixo,a íntegra das minhas respostas:
1- Como Jesus vem sendo representado ao longo da história?
Essa é uma pergunta muito difícil de ser respondida, porque Jesus já foi representado de diversas maneiras ao longo da história.
Geralmente, as representações de Jesus seguem os parâmetros culturais daqueles que O estão representando.
Um europeu do séc. XV ou XVI só tinha praticamente contato com pessoas brancas - muitas delas loiras de olhos claros - logo, esse europeu representava Jesus de acordo com esse parâmetro. Não se tratava de uma representação ideológica ou racista de Jesus, mas uma representação que seguia aquilo que o artista estava acostumado a ver no dia a dia.
De modo análogo, as representações do cristianismo do Oriente próximo mostram um Jesus que se assemelha aos povos daquelas regiões: cabelos negros e pele menos branca. Algumas das pinturas mais antigas de Jesus (do final da Antiguidade e início da Idade Média), os chamados "pantocrator" são dessas regiões e seguem esse parâmetro.
Mas é fundamental que fique claro que mesmo que essas representações orientais sejam mais antigas que as ocidentais, elas ainda estão muito distantes no tempo (pelo menos alguns séculos) de Jesus.
Resumindo: Jesus vem sendo representado de diversas formas ao longo da história e essas representações seguem os padrões culturais de cada época e se baseiam naquilo que os artistas estavam acostumados a ver; não são representações ideológicas ou racistas.
2- Como era, de fato a aparência dele. da para dizer?
Não sabemos como era de fato a aparência física do Jesus histórico. Não existem descrições físicas de Jesus contemporâneas a Ele. E nem qualquer pintura, escultura ou mosaico que O retrate e seja da época d'Ele. Logo, não é possível saber como Ele era fisicamente. O máximo que se pode fazer é especular que Ele fosse semelhante aos judeus palestinos, já que Ele era um judeu palestino.
Mas também não sabemos exatamente como eram os judeus palestinos da época de Jesus. Então, qualquer afirmação sobre os aspectos físicos de Jesus não passa de mera especulação.
É pouquíssimo provável que Ele fosse loiro de olhos verdes ou azuis. Mas também é pouquíssimo provável que Ele fosse negro, como alguns tentam dizer hoje.
Resumindo: Não sabemos como era a aparência física do Jesus histórico e qualquer afirmação categórica nesse sentido não passa de especulação. É improvável que ele fosse loiro, mas também é improvável que ele fosse negro. E na verdade, jamais saberemos.
3- Quando começou-se a questionar a aparência que foi difundida dele, um homem branco, louro, de olhos azuis?
Na verdade, não chega a existir uma época exata em que se passa a questionar essa representação de Jesus a qual você se refere porque antes mesmo dessas representações, já havia as representações dos cristãos do Oriente próximo, que mostram um Jesus de cabelos pretos e pele mais escura. Como eu disse acima.
E mesmo no Ocidente, existem diversas representações artísticas - renascentistas e barrocas, por exemplo - nas quais Jesus não é loiro.
Resumindo:
Antes das representações ocidentais já existiam representações do Oriente próximo, nas quais Jesus não é loiro de olhos claros. E mesmo no Ocidente, as representações nas quais Jesus não é loiro são abundantes.
4- Uma dúvida: o senhor acha exagero representar (Jesus) como gay ou transexual?
Certamente. Mais do que exagero. É algo completamente descabido e sem qualquer base histórica. Eu iria além: é absolutamente anacrônico.Não passa de uma tentativa de tentar refletir sobre um personagem histórico valores e expectativas da nossa sociedade de hoje. O que aliás é bastante comum. Outro exemplo disso é tentar retratar Jesus como "socialista". Ora, o socialismo é um conceito que surge no séc XIX. Não faz o mínimo sentido dizer que Jesus era socialista.
5- Mas existe a necessidade de as pessoas se sentirem representadas. Como o senhor avalia isso?
Olha, a necessidade de as pessoas sentirem a necessidade de se verem representadas não me dá o direito de tentar mudar o passado e a história na marra. Passado é passado. História é história. Ficção é ficção.
Postagens
