quinta-feira, 24 de abril de 2008

Dormitio Marie, Transitio Marie

Ao traduzir o artigo do meu caro amigo Alin Sociu para o português, deparei-me com uma literatura muito interessante sobre a qual eu já tinha ouvido falar, mas que não conhecia a fundo.
Trata-se do círculo literário conhecido como Dormitio Marie ou Transitio Marie. O Alin acabou tomando contato com esses textos devido a sua pesquisa de doutorado; quem lê o blog sabe que ele está comprovando que o dito Evangelho do Salvador é na verdade uma homilia copta tardia e assim sendo, se assemelha a outros textos coptas dos sécs. VI, VII e VIII.
E os textos das tradições da Dormitio e da Transitio Marie fazem parte do corpus literário copta dos sécs. citados.
Mas do que tratam esses textos da Dormitio e da Transitio Marie? Tratam de um assunto muito conhecido de católicos do mundo inteiro: a Assunção da Virgem Maria. Esses textos, patrimônio histórico da cristandade, atestam a existência de tal crença já num periodo relativamente antigo da história do cristianismo.
Nos textos da tradição Dormitio, o assunto principal é exatamente da dormição da Virgem; ou seja, ela, por ser imaculada, não poderia ter sofrido a corrupção do corpo decorrente da morte. Assim sendo, ao final de sua jornada na terra, ela teria dormido, caido num estado de entorpecimento, para então ser elevada intacta aos céus.
Nos textos da tradição Transitio, o assunto principal é a viagem da Virgem até os céus, ou seja, a assunção propriamente dita, depois da dormição.
As descrições desses textos são estremamente belas; a Virgem sempre está vestida com roupas explendorosas e resplandescentes (olha a apocalítica ai), que não poderiam ser usadas por nenhum outro ser humano; em geral os apóstolos estão com ela e velam seu corpo quando Jesus aparece em sua glória para buscá-la, cercado de anjos e exércitos celestes.
A historicidade desses relatos pode, evidentemente, ser questionada, afinal, tratam-se de textos dos sécs. V, VI, VII e VIII que falam de acontecimentos sobrenaturais. Mas isso não significa, no entanto, que a assunção não tenha acontecido (inclusive, isso é um Dogma, e, na condição de historiador que nele acredita, eu deixo esse assunto para os teólogos). Mas a importância desses textos repousa no fato deles atestarem a crença da assunção da Virgem ainda na antiguidade. Se alguém acha que o dogma da Assunção foi algo "inventado" recentemente, esse alguém está enganado. Esses textos comprovam que já na antiguidade haviam cristãos que acreditavam nisso.
E o fato desses textos terem sido conservados em copta significa algo? Só a tradição copta acreditava nisso na antiguidade e só depois a tradição latina se apropriou de tal crença? Não, absolutamente não. Mais uma vez lembramos que o clima do Egito é propício para a conservação de manuscritos. Por isso esses textos foram conservados em copta, porque só no Egito é seco o suficiente....

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Houston 2008: mais sobre o Evangelho de Judas...

Acho que os poucos gatos pingados que frenquentam esse blog já devem estar de saco cheio do Evangelho de Judas. Mas o que eu posso fazer se só fala nisso, estou apenas seguindo a tendência...
Bom, agora no mês de março aconteceu em Houston mais um colóquio sobre o nosso texto querido. O prof. Painchaud, meu orientador, me atualizou sobre as novidades.
O prof. Gregor Wurst disponibilizou as fotos da parte inferior da pág. 41, que ele julgava ilegivel e praticamente perdida. O prof. Wolf-Peter Funk, da Université Laval (meu professor de copta), conseguiu decifrar as fotos e transcrever algumas linhas do texto copta e já traduziu para o francês (as linhas 8 a 26).
Como se imaginava, a parte inferior da pág. 41 é extremamente importante para a compreensão da polêmica em relação ao martírio, tema importantíssimo no Ev. de Judas.
Como vocês poderiam imaginar, eu não posso divulgar a tradução, mas logo logo isso deve aparecer publicado por ai.
Deve-se dizer que o Prof. Gregor Wurst tem feito um trabalho honesto; ele já parece estar convencido de que a interpretação da National Geographic estava realmente equivocada e desde o ano passado tem tentado manter contato com outros estudiosos visando decifrar melhor o texto.
Gostaria de agradecer ao Prof. Painchaud pelas informações e ao doutorando da Université Laval, meu colega Serge Cazelais, que acompanhou o Prof. Painchaud a Houston e que vai publicar uma resenha sobre o colóquio na Laval theologique et philosophique.