A palavra grega apócrifos é geralmente traduzida como “livro secreto”. Já na antiguidade tardia, os cristãos se apropiaram dessa palavra e começaram a usá-la com um outro significado designando assim, um conjunto específico de livros com características diversas (ver, por exemplo, a Carta festiva de 367 de Atanásio de Alexandria).
A simples definição “apócrifo é um livro que não faz parte do cânon” não condiz com a realidade, pois há milhares de textos que não compõem o cânon e que não são apócrifos; os escritos de Platão não fazem parte do cânon e não são apócrifos; os contos de Machado de Assis não fazem parte do cânon e não são apócrifos. Sim, eu sei que acabei de citar dois exemplos idiotas, mas isso é só para vocês terem idéia de como essa definição é incompleta.
Uma melhor delimitação da definição de “apócrifo” deve levar em conta, portanto, o elemento da antiguidade (um apócrifo deve necessariamente ter sido composto na antiguidade) e o pretenso caráter de texto religioso/sagrado do judaísmo e/ou cristianismo; e algumas vezes, a pretensão de Escritura por parte de quem compôs ou consumiu o texto. Enfatizo que, muitas vezes, tal caráter é atribuido não por quem escreveu ou compôs o texto, mas por quem consumiu.
Ainda esta semana, teremos mais sobre os apócrifos.