terça-feira, 19 de julho de 2011

A (re)descoberta da literatura copta pelo Ocidente

A Igreja egípcia separou-se oficialmente do restante da cristandade em 451, logo após o Concílio de Calcedônia. O cisma em questão foi, por um lado, um triste desfecho de um processo de distanciamento entre a cristandade do Ocidente e do Oriente que já vinha se desenhando desde o séc. IV, e por outro, uma reação, digamos, desproporcional do patriarcado de Alexandria frente à perda de influência política e cultural de sua cidade em relação à Constantinopla. O distanciamento entre os cristãos do Ocidente e do Oriente deveu-se principalmente a elementos linguisticos e políticos. Desde fins do século III, o latim passou a ser a língua dominante entre os cristãos do ocidente; antes disso, o grego predominava mesmo no Ocidente, mas com o passar do tempo, deixou de ser língua corrente nessa região, perdendo espaço para o latim. Do outro lado, no Oriente, o latim nunca chegou a ser uma lígua influente; o grego sempre foi a língua majoritária. Portanto, nas últimas décadas do séc. IV, cristãos do Ocidente e do Oriente falavam, grosso modo, duas línguas diferentes e pessoas como Rufino de Aquiléia e Jerônimo foram praticamente os últimos exemplos de teólogos que dominavam as duas línguas. Politicamente, Alexandria, a cidade cultural por excelência da antiguidade, vinha perdendo cada vez mais espaço para a nova capital do império, Constantinopla, tendência que se desenhava desde 381 com o Primeiro Concílio de Constantinopla.
O fato é que desde o séc. V, a Igreja egípcia ficou praticamente isolada do restante da cristandade. Assim sendo, o periodo de ouro da literatura copta, que, arrisco dizer, vai de Shenoute (fim do séc. IV - início do séc. V) até a invasão muçulmana no séc. VII, desenvolveu-se localmente e não teve repercussão alguma no Ocidente. Só se conhecia a literatura copta indiretamente, por meio de traduções gregas e latinas de regras e vidas monásticas, e mesmo assim só o que havia sido composto antes de 451.
O Ocidente só veio tomar conhecimento da literatura copta e, digamos assim, redescobrí-la no séc. XV quando houve uma tentativa de re-aproximação e união por parte da Igreja Católica Romana com a Igreja Copta. Nota-se nos séculos seguintes um crescente interesse por parte dos orientalistas pela literatura copta; interesse esse que se deveu também ao fato de muitos viajantes e aventureiros retornarem à Europa com manuscritos e fragmentos de textos coptas. As descobertas arqueológicas de manuscritos coptas se multiplicaram nos séculos XIX e XX e a importância da literatura copta para o estudo do cristianismo primitivo foi sendo notada.
Falar mais da importância e do escopo da literatura copta nesse post seria chover no molhado; uma breve pesquisa aqui no blog seria suficiente para se constatar isso.

Um comentário:

ALlan disse...

Muito interessante!