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Fragmento de uma estátua de Constantino, hoje nos Museus Capitolinos |
Um importantíssimo aniversário para a história do cristianismo, comemorado em fevereiro deste ano, passou praticamente desapercebido. Trata-se do aniversário de 1700 anos do famoso Edito de Milão, promulgado em fevereiro de 313 pelo então imperador romano do Ocidente, Constantino, e por Licinius, que na época governava a região dos Balcãs.
Dois autores contemporâneos de Constantino falam do Edito, Lactâncio, em sua obra intitulada De Mortibus Persecutorum, e Eusébio de Cesareia, em sua História Eclesiástica. Na obra de Lactâncio o edito é apresentado como uma carta escrita por Licinius e enviada aos governadores das províncias do Oriente.
Em termos práticos, o Edito de Milão fez com que o cristianismo se tornasse uma religião tolerada, permitida, acabando oficialmente com as perseguições e martírios. É particularmente impressionante notar que esse edito tenha sido promulgado somente alguns anos depois da deflagração de uma das mais violentas e sangrentas perseguições da história do cristianismo, a famosa perseguição de Diocleciano (no início do séc. IV). A perseguição de Diocleciano foi tão violenta e marcante que até hoje a Igreja Copta baseia seu calendário no início do reinado desse imperador, contando os anos a partir da "era dos mártires". Sem contar os cismas que ela causou, como o chamado cisma Meliciano, mas isso é assunto para outro post.
Nunca é demais lembrar a importância do Edito de Milão na história do cristianismo. Trata-se de um verdadeiro marco, um evento que inaugura um novo período na história da Igreja. Na historiografia sobre o cristianismo antigo, por exemplo, adota-se o Edito de Milão - juntamente com o Concílio de Niceia (325) - como uma espécie de marco institucionalizador da Igreja.
O cristianismo ainda teve de esperar até o fim do século IV para se tornar a religião oficial do império, mas o Edito de 313 provocou diversas mudanças no cristianismo e em suas relações com o Estado. Se antes o cristianismo tinha de lidar com as perseguições institucionais, a partir de 313, teve de começar a lidar com a ingerência dos imperadores nos assuntos doutrinais e eclesiásticos. A famosa crise ariana provê bons exemplos de quão longe a ingerência do império romano tentou chegar: imperadores exilando bispos e "nomeando" pessoas de sua confiança para as dioceses importantes ou ainda tentando meter o bedelho em decisões conciliares. A Igreja não deixou por menos e muitas vezes enfrentou o poder imperial para afirmar categoricamente que o poder secular não deveria se meter em assuntos doutrinais e eclesiásticos. O maior exemplo disso foi, sem dúvida, Atanásio de Alexandria, que chegou a ser exilado 5 vezes durante seu episcopado por 5 imperadores diferentes.
Portanto, se engana quem acha que o Edito de Milão trouxe um período de paz para a Igreja da antiguidade. Alguns problemas sumiram, outros apareceram.
Se engana também quem acha que o Edito de Milão sepultou de vez o "paganismo". Sabe-se que muitos adeptos das religiões pagãs continuaram a praticar seus cultos até meados do séc. V, e talvez mesmo depois disso. Não se pode deixar de mencionar, por exemplo, o imperador Juliano, o apóstata (imperador entre os anos de 361-363), da própria dinastia de Constantino e que, tendo nascido no seio de uma família cristã, renegou a fé e tentou restaurar os cultos pagãos.
Mas como dito acima, não se pode deixar de considerar a importância desse marco - o Edito de Milão - na história do cristianismo.
Portanto, se engana quem acha que o Edito de Milão trouxe um período de paz para a Igreja da antiguidade. Alguns problemas sumiram, outros apareceram.
Se engana também quem acha que o Edito de Milão sepultou de vez o "paganismo". Sabe-se que muitos adeptos das religiões pagãs continuaram a praticar seus cultos até meados do séc. V, e talvez mesmo depois disso. Não se pode deixar de mencionar, por exemplo, o imperador Juliano, o apóstata (imperador entre os anos de 361-363), da própria dinastia de Constantino e que, tendo nascido no seio de uma família cristã, renegou a fé e tentou restaurar os cultos pagãos.
Mas como dito acima, não se pode deixar de considerar a importância desse marco - o Edito de Milão - na história do cristianismo.
É uma pena que este aniversário não esteja sendo lembrado.
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