sexta-feira, 30 de março de 2012

Codex Bazae

Para quem se interessa, o Codex Bazae, um dos mais célebres códices bíblicos da antiguidade, está disponível na página da Cambridge Digital Library em imagens de alta qualidade.
Eis o link:


Fiquei sabendo da notícia por meio do colega Serge Cazelais.  

segunda-feira, 19 de março de 2012

A História de José, o carpinteiro

Ícone copta representando São José e
o Menino Jesus.
Como a Tradição Latina comemora a memória de São José, o pai adotivo de Jesus, no dia 19 de março, resolvi escrever um pouco sobre o apócrifo conhecido como A História de José, o carpinteiro.

O texto é muito provavelmente uma composição tardia, nada indica que seja anterior ao séc. V; existem duas versões do texto, até onde sei, uma em copta e outra em árabe. Aliás, o texto foi composto no Egito. Como se trata de uma composição deveras tardia, não se pode atribuir-lhe nenhum rigor histórico. Mas o texto é interessante por demonstrar o caráter arcaico de algumas crenças e devoções dos cristãos antigos. A mais notável é provavelmente a própria devoção a São José. Se alguém se deu ao trabalho de compor uma obra literária colocando José em evidência, como personagem e exemplo, é porque o considerava digno de tal. Assim sendo, o texto traz evidências de uma devoção a São José já nos primeiros séculos de cristianismo.

O texto é igualmente interessante por oferecer uma resposta, digamos, peculiar e alternativa para a questão dos "irmãos de Jesus", citados nos Evangelhos canônicos e em alguns apócrifos, como o Primeiro Apocalipse de Tiago de Nag Hammadi e do codex Tchacos. A resposta tradicional para a questão dos irmãos de Jesus diz que a palavra "irmãos" é usada para designar. graus de parentescos diversos, como primos, por exemplo. O Primeiro Apocalipse de Tiago oferece uma outra resposta, sugerindo que a fraternidade é meramente espiritual, como sugere a passagem na qual Jesus diz para Tiago que "eu te chamei de irmão, mas não es meu irmão segundo a carne".

A História de José, o carpinteiro conta que José era já um ancião, 90 anos, quando recebeu a missão de ser o responsável por Maria. José seria viúvo, e teria tido em seu primeiro casamento 4 filhos (Judas, Justus, Tiago e Simão) e duas filhas (Assia e Lídia). Seriam exatamente esses os "irmãos de Jesus" aos quais fazem referência os Evangelhos canônicos e outros textos antigos. O texto enfatiza, portanto, a virgindade perpétua de Maria, e utiliza materiais provindos, muito provavelmente, do Proto-evangelho de Tiago.

O texto também fala de modo extenso da morte de José, dizendo que ele viveu milagosamente até a idade de 111 anos, ao estilo dos patriarcas do Antigo Testamento, poder-se-ia dizer. 

Talvez a História de José, o carpinteiro seja um dos responsáveis pela origem da tradição iconográfica que procura retratar José como um ancião, em contraste com a juventude da Virgem; uma maneira de colocar em evidência, de maneira piedosa, a virgindade perpétua da própria Maria e a castidade fiel do próprio José.

Em 2011, meu amigo Alin escreveu um post sobe novos fragmentos do texto em questão em seu blog.