quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Evangelhos Gnósticos II: os diálogos de revelação

No post de hoje falaremos um pouco dos chamados diálogos de revelação.
Dois estudiosos em específico falaram dos chamados diálogos de revelação: K. Rudolph e P. Perkins; para ambos, os diálogos de revelãção seriam um gênero literário próprio do que se convencionou chamar de gnosticismo.
Mas então, o que seria um diálogo de revelação? Um diálogo de revelação estaria, do ponto de vista literário, próximo de um evangelho. Os diálogos de revelação colocam em cena Jesus e seus discípulos (às vezes vários deles, às vezes só alguns ou mesmo só um); tem lugar então um diálogo entre Jesus e o(s) discípulo(s) no qual o próprio Jesus faz diversas revelações, muitas vezes de cunho "gnóstico". A maioria dos diálogos de revelação situa-se cronologicamente no período pós-pascal, ou seja, depois da ressuirreição de Jesus.
Notem que num diáologo de revelação não há um quadro narrativo igual ao dos evangelhos; o quadro narrativo de um diálogo de revelação serve somente para colocar Jesus em cena com o(s) discípulo(s); não há preocupação em falar ou descrever a vida, milagres, Paixão e Ressurreição de Jesus.
Alguns dos textos que são chamados de "evangelhos gnósticos" deveriam, portanto, ser classificados não como evangelhos, mas como diálogos de revelação. É o caso, por exemplo, do Evangelho de Maria.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Evangelhos Gnósticos I

O primeiro tema abordado no mini-curso sobre os evangelhos gnósticos dizia respeito ao gênero literário evangélico; o que seria um evangelho? O simples título de "evangelho" transforma um determinado texto em um evangelho propiamente dito? Eu diria que não; se eu escrever agora uma crônica e der a ela o nome de romance, a tal crônica não vai deixar de ser crônica e se tornar um romance.
Portanto, o primeiro passo do nosso mini-curso foi propcurar definir e entender o que seria um evangelho. Eu procurei demosntrar para o público que um evangelho, seja ele canônico ou apócrifo, é um texto que relata episódios da vida de Cristo (com ênfase nos episódios da Paixão, morte e Ressurreição), seus ensinamentos, dizeres e milagres. Se considerarmos que um evangelho deve apresentar, portanto, as características mencionadas, boa parte dos pretensos "evangelhos gnósticos" não se encaixaria na definição de gênero literário; apesar de muitas vezes os ditos "evangelhos gnósticos" possuirem o título de "evangelho" (em alguns casos, o título não consta no manuscrito, mas foi dado pelos estudiosos modernos) eles não falam da vida de Cristo etc.; não seriam, portanto, evangelhos. Essa primeira informação já gerou muita polêmica e deixou alguns até decepcionados.
Enfim, no próximo post continuaremos falando do gênero literário evangélico.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Respostas

Algumas perguntas foram feitas por frequentadores do blog em postagens bem antigas, então eu demorei para percebê-las. Mas agora que as vi, posso tentar respondê-las.
Carlos Alberto,
eu diria que sim, que existe uma tradução on line confiável dos textos de Nag Hammadi (em inglês, francês ou alemão, é claro, em português, com certeza não). Eu não conheço, mas tenho quase certeza que existe. Vou procurar me informar melhor e se descobrir algo eu posto aqui te avisando.
Giane Grechi,
Eu sou historiador e um historiador bem conservador, o que quer dizer que faço meu trabalho a partir de fontes primárias; tiro informações das fontes. Se eu digo algo que não pode ser apoiado em uma fonte eu deixo de fazer historiografia e passo a fazer ficção ou a inventar (infelizmente, muitos que se dizem historiadores ou estudiosos trabalham assim).
Muitas vezes não se dispõe de fontes suficientes para se estudar um determinado assunto ou personagem da história; é o caso de Jesus. Dispomos de pouquíssimas fontes seguras a seu respeito. Há coisas e detalhes da vida de Jesus que não sabemos, assim como há coisas e detalhes da vida de outros personagens da história igualmente desconhecidos. Não sabemos tudo que gostariamos sobre a vida de Jesus do ponto de vista histórico, assim como não o sabemos tudo que goastariamos da vida de Júlio César, Maomé, Átila, etc. Isso não significa que podemos sair por aí inventando coisas; temos de nos contentar com o que temos e ir em busca de outras fontes seguras, se não as encontramos, paciência.
A discussão sobre o quais fontes para o estudo do Jesus histórico é extremamente complexa e já gastou muitas páginas de livros, artigos e teses; eu particularmente acho-a enfadonha e sem sentido. Meu raciocínio é muito simples: 1- eu tenho 4 evangelhos (os canônicos)certamente compostos no século 1 que começaram a ser utilizados por cristãos ainda no séc. I e que possuem centenas de atestações na literatura cristã a partir do início do séc. II e centenas de cópias; 2- uma série sem fim de evangelhos e outros textos apócrifos tardios, certamente compostos a partir da segunda metade do séc. II (ou seja, mais de 100 anos após a morte de Jesus) por autores desconhecidos conservados em cópias mais tardias ainda e em geral, em pouquíssimos manuscritos.
Eu prefiro usar como fontes o número 1; você pense como quiser. Infelizmente é o que temos para estudar Jesus. Como historiador eu gostaria de ter mais fontes, mas como cristão, acho que o que temos está de bom tamanho.
Só te peço um pouco mais de respeito (este pedido fica claro na descrição do blog); o Vaticano não tem nada a ver com isso e criticá-lo dessa maneira é um desrespeito aos católicos que frequentam esse blog (e a mim, inclusive). Te aconselho ainda a estudar um pouco mais de história da Igreja.
Se quiser continuar a frequentar o blog será bem vinda, mas por favor, com um pouco mais de respeito.
Em relação ao Ev. de Maria eu falo nos próximos posts, quando fizer um panorama do mini-curso sobre "evangelhos gnósticos".