sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Agradecimetos

Gostaria, antes de mais nada, de agradecer as recentes e frutíferas participações do Guilherme e do Flávio.
Flávio e Guilherme, muitíssimo obrigado pela participação e pelos comentários de vocês.
Queria agradeder também o meu grande amigo fabrício. Essa noite ele dará uma breve palestra no Curso Superior de Teologia da Arquidiocese de Brasília, onde dou aula de Patrologia.
O Fabrício é especialista em St. Agostinho; o título da palestra é "Agostinho contra os maniqueístas".
Bom, depois eu escrevo mais aqui sobre o que o Fabrício nos falar hoje a noite.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Quando cristãos deixaram de ser judeus?

Bom, tentando então responder a pergunta do Guilherme, os estudiosos dizem que os cristãos separam-se efetivamente do judaísmo no fim do séc. I e início do II.
Como já foi dito, a primeira geração de cristãos era composta basicamente por judeus e esse judeus-cristãos continuaram a frequentar as sinagogas e seguir os preceitos judaicos. Como bem se sabe, algumas das epístolas paulinas, por exemplo, nos falam da polêmica questão da observância dos preceitos judaicos por parte dos cristãos convertidos do paganismo. Os Atos dos Apóstolos também tocam no assunto ao relatar aquilo que ficou conhecido como "Concílio de Jerusalém", no qual foi discutido principalmente a questão citada acima. A posição de Paulo era que os convertidos do paganismo não precisavam seguir as prescrições legais judaicas; e foi exatamente essa posição que aos poucos se impôs e os legalismos judaicos passaram a ser entendidos como elementos culturais. Portanto, como elementos culturais, é de se esperar que eles tenham continuado a ser praticados por muitos cristãos de origem judaica ao longo das décadas até mesmo do séc. II. Mas vejam bem, quando falo desses preceitos judaicos, não estou falando dos 10 mandamentos e da lei judáica em geral, mas de coisas mais específicas (quem quiser detalhes, leia o Pentateuco); a mais famosa era, sem dúvida, a circuncisão.
Enfim, a separação entre judeus e cristãos não foi algo oficial, aconteceu gradualmente. Não seria absurdo imaginar um cristão de origem judaica que continuava a frequantar a sinagoga mesmo no fim do sec. I ou início do II. Mas como as práticas ritualísticas cristãs eram diferentes das judaicas, o cerne ritual do cristianismo já não estava ligada a sinagoga e muito menos ao Templo, destruído em 70 d.C.
Outro fator é importante na diferenciação e separação de cristãos e judeus: o proselitismo. O proselitismo não era uma caracteristica forte do judaísmo, mas era, e continua sendo, fundamental no cristianismo. Os judeus estavam fechados em si, não queriam converter os pagãos, aliás, as correntes mais radicais impediam até mesmo o contato do judeu com pessoas de outras raças. Já no cristianismo, o contato com pagãos era inevitável, mais do que isso, era fundamental, uma resposta ao mandato de Cristo de levar a Boa Nova a todo o mundo.
Então, enquanto judeus permaneciam isolados, cristãos tomavam cada vez mais contato com pagãos e, com o passar do tempo, o que antes era um ramo do judaísmo era formado, em sua grande maioria, por não-judeus. E é nesse momento que o cristianismo começa a se diferenciar de fato do judaísmo. Agora, uma data exata não pode ser precisada.
Mas podemos ao menos estabelecer um ponto de referência: a Revolta de 70. O ódio dos judeus em relação aos romanos chegou ao seu clímax com a destruição do Templo e a ruína de Jerusalém em 70. Não obstante, os cristãos continuavam a evangelizar os romanos, mesmo tendo eles, ou o povo deles, destruído o Templo e a cidade santa. E isso foi um ultraje para os judeus não-cristãos. Talvez tenha sido ai que os cristãos começaram a ser expulsos das sinagogas.
Mas isso é tudo muito relativo, pois há indícios de que na segunda revolta da judéia, por volta de 130-133, ainda haviam cristãos judeus na Judéia; eles foram obrigados a seguir Bar Kochba, o lider judeu da revolta e quem não o fez foi perseguido e expulso.
Enfim, tem um texto interessante sobre essa questão da separação dos judeus e cristãos. Como não estou em casa nesse momento, não posso passar a referência, mas depois eu escrevo um comentário e isso se resolve.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Cristianismo nascente e judaísmo

Uma pergunta de um amigo, Guilherme Guth, levou a uma discussão saudável sobre as relações entre o cristianismo nascente, em suas primeiras décadas e o judaísmo. Ele me fez a pergunta por e-mail, mas vou responder aqui porque aí todos podem participar.
O Guilherme usou a palavra seita, apoiado na definição do dicionário Aurélio, para definir o cristianismo em relação ao judaísmo; o cristianismo, em seus primórdios, seria uma seita do judaísmo. Bom, primeira coisa, em geral, definições de dicionários de língua portuguesa não são utilizadas para discussões científicas. Basta ver, Guilherme, a definição de "mito" do mesmo dicionário Aurélio; ela não corresponde àquela aprendida em História Antiga I.
Um segundo ponto diz respeito ao seguinte: em geral, os especialistas evitam utilizar a palavra "seita" para se referir ao cristianismo, da mesma forma como se evita utilizá-la para, por exemplo, grupos hereges dos séculos II e III.
O mais comum é se referir ao cristianismo das primeiras décadas como uma ramificação do judaísmo, um tipo de judaísmo. Sabe-se por meio de diversas fontes que havia no séc. I vários tipos de judaísmo; por exemplo, fariseus e saduceus. Assim sendo, o cristianismo seria, mais uma espécie de judaísmo, mesmo porque praticamente toda a primeira geração de cristãos era formada de judeus (o próprio Jesus o era).
E de certa maneira, não era intenção de Jesus fundar uma nova religião, ele se apresentou como o cumprimento das promessas da antiga aliança. Ou seja, a partir de Jesus, para os judeus que o seguiram, o judaísmo só fazia sentido com o próprio Jesus. Com o passar do tempo, como muitos judeus não aderiram a Jesus, aqueles que o fizeram passaram a formar um grupo distinto. É claro que isso se deveu a uma série de outros fatores que podem ser tema do próximo post.
E só para terminar, o fato de haver separação religiosa clara entre cristãos e judeus pelos fins do séc. I e início do II não significa que houve separação social. Cristãos e judeus continuaram a conviver.