Há pouco mais de sessenta anos, em 1945, um conjunto de códices de papiros com coberturas de couro era encontrado no alto - Egito, nas proximidades da cidade moderna de Nag Hammadi. A descoberta acidental propiciou uma quantidade considerável de fontes inéditas para o estudo do cristianismo primitivo e de algumas de suas manifestações marginais que, grosso modo, são conhecidas e denominadas hoje sob o rótulo de “gnosticismo”. São mais de cinqüenta textos de cunho religioso e filosófico divididos em treze códices - alguns textos se repetem, há, por exemplo, duas versões diferentes do texto conhecido como Eugnostos, uma no codex III e outra no codex V. Os códices datam do séc. IV, a língua é o copta, mas os textos foram muito provavelmente compostos em grego, em momentos anteriores ao séc. IV. O que se tem hoje é, portanto, um provável conjunto de traduções coptas de textos que foram compostos em grego - ou ainda, versões coptas feitas a partir de outras versões coptas que remontariam, em diferentes graus de transmissão, aos textos gregos. A cadeia de transmissão dos textos de Nag Hammadi é, portanto, extremamente complexa.
Estes originais gregos, no entanto, se perderam, com exceção de alguns escritos dos quais se possui ou o texto completo em grego ou fragmentos; caso, por exemplo, do fragmento da República de Platão no codex VI (588A-589B). Convencionou-se chamar o corpus literário em questão de Biblioteca Copta de Nag Hammadi (BCNH), nome que tem sido utilizado desde os primórdios de sua pesquisa e que permanece até hoje.
A BCNH é constituída por um número considerável de textos; ela pode ser contada entre as grandes descobertas arqueológicas do séc. XX. Como dito anteriormente, os textos da BCNH são traduções/versões coptas do séc. IV que remontariam a textos gregos compostos anteriormente, o que significaria, no caso específico de alguns escritos, na existência de testemunhos de tradições relativamente arcaicas sobre manifestações pouco conhecidas do cristianismo primitivo.
Muitos textos da BCNH contêm doutrinas semelhantes às denunciadas e condenadas por diversos heresiólogos dos primeiros séculos do cristianismo, notadamente Irineu de Lyon. Estas doutrinas são genericamente chamadas de gnosticismo, como dito anteriormente, um rótulo moderno para designar um conjunto de manifestações particulares do cristianismo primitivo. O fato é que a descoberta de um conjunto tão considerável de fontes ditas gnósticas chamou a atenção dos estudiosos. O que antes era conhecido quase que exclusivamente por meio de heresiólogos poderia então ser conhecido por meio de fontes primárias. A dita “doutrina gnóstica” poderia então ser entendida por meio das descrições de seus próprios adeptos e não necessariamente por meio de seus opositores. Tal fato fez com que se propagasse a idéia de que a BCNH seria uma coleção gnóstica, idéia que de certa forma, perdura até hoje em alguns meios não acadêmicos, como a imprensa, mas ainda em meios acadêmicos que se preocupam com estudos correlatos.
Mas a verdade é que a BCNH não pode ser rotulada como uma “coleção gnóstica”. Uma parte considerável dos textos encaixa-se no que se convencionou chamar de “gnosticismo”, ou seja, um sistema doutrinal que considera a existência de um Deus supremo e um inferior que seria o criador do mundo material. Mas muitos textos da BCNH não apresentam nenhum traço claro de “gnosticismo”; alguns textos renomados, como o evangelho de Tomé, por exemplo, já foram cotados como “gnósticos” pelo simples fato de fazerem parte da BCNH; no entanto, a leitura atenta do texto em questão não revela nenhuma característica peculiar ao gnosticismo, mas diversos elementos próprios a diversos grupos dos primórdios do cristianismo. O evangelho de Tomé não é um texto gnóstico, e foi, muito provavelmente, produzido num ambiente siríaco encrático, talvez até monástico, onde a figura de Tomé era renomada.
Estes originais gregos, no entanto, se perderam, com exceção de alguns escritos dos quais se possui ou o texto completo em grego ou fragmentos; caso, por exemplo, do fragmento da República de Platão no codex VI (588A-589B). Convencionou-se chamar o corpus literário em questão de Biblioteca Copta de Nag Hammadi (BCNH), nome que tem sido utilizado desde os primórdios de sua pesquisa e que permanece até hoje.
A BCNH é constituída por um número considerável de textos; ela pode ser contada entre as grandes descobertas arqueológicas do séc. XX. Como dito anteriormente, os textos da BCNH são traduções/versões coptas do séc. IV que remontariam a textos gregos compostos anteriormente, o que significaria, no caso específico de alguns escritos, na existência de testemunhos de tradições relativamente arcaicas sobre manifestações pouco conhecidas do cristianismo primitivo.
Muitos textos da BCNH contêm doutrinas semelhantes às denunciadas e condenadas por diversos heresiólogos dos primeiros séculos do cristianismo, notadamente Irineu de Lyon. Estas doutrinas são genericamente chamadas de gnosticismo, como dito anteriormente, um rótulo moderno para designar um conjunto de manifestações particulares do cristianismo primitivo. O fato é que a descoberta de um conjunto tão considerável de fontes ditas gnósticas chamou a atenção dos estudiosos. O que antes era conhecido quase que exclusivamente por meio de heresiólogos poderia então ser conhecido por meio de fontes primárias. A dita “doutrina gnóstica” poderia então ser entendida por meio das descrições de seus próprios adeptos e não necessariamente por meio de seus opositores. Tal fato fez com que se propagasse a idéia de que a BCNH seria uma coleção gnóstica, idéia que de certa forma, perdura até hoje em alguns meios não acadêmicos, como a imprensa, mas ainda em meios acadêmicos que se preocupam com estudos correlatos.
Mas a verdade é que a BCNH não pode ser rotulada como uma “coleção gnóstica”. Uma parte considerável dos textos encaixa-se no que se convencionou chamar de “gnosticismo”, ou seja, um sistema doutrinal que considera a existência de um Deus supremo e um inferior que seria o criador do mundo material. Mas muitos textos da BCNH não apresentam nenhum traço claro de “gnosticismo”; alguns textos renomados, como o evangelho de Tomé, por exemplo, já foram cotados como “gnósticos” pelo simples fato de fazerem parte da BCNH; no entanto, a leitura atenta do texto em questão não revela nenhuma característica peculiar ao gnosticismo, mas diversos elementos próprios a diversos grupos dos primórdios do cristianismo. O evangelho de Tomé não é um texto gnóstico, e foi, muito provavelmente, produzido num ambiente siríaco encrático, talvez até monástico, onde a figura de Tomé era renomada.
3 comentários:
Gostaria muito de saber fatos concretos de Jesus, principalmente se ele existiu e a data do seu nascimento. Também gostaria de saber seu comentários sobre a biblia... pois acredito se Jesus existiu a história dele é muito interessante não aquela coisa chata e sem nexo que ficam repetindo. Fala sério, os comentários sobre Maria Madalena e Nag Hammadi me parecem muito mais verídicos do que a própria Biblia. Sem contar que durante anos o próprio vaticano nunca respeitou os ensinamentos de Jesus, ostentando, matando milhares de pessoas e omitindo vários fatos para manter o controle. Com a sua formação não posso acreditar que vc se conforma com as poucas, repetidas e obscuras informações que a Biblia oferece sobre Jesus...
Júlio,
Gostaria de saber se já é possível acessar, via Internet, uma tradução confiável dos textos da coleção de Nag Hammadi.
Carlos Alberto
Parabéns pelo Blog :) Gostei muito do conteudo .
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