Foto do fragmento que ficou conhecido como "Evangelho da Esposa de Jesus". |
Há cerca de 3 anos, no mês de setembro de 2012, o famigerado "Evangelho da Esposa de Jesus" era divulgado. Ao mesmo tempo em que Karen King apresentava o texto a um seleto grupo de especialistas da língua copta num Congresso em Roma, o site do New York Times disponibilizava em seu site uma foto do fragmento acompanhado de uma matéria sensacionalista.
Resumindo, logo nos primeiros dias após a divulgação os estudiosos chegaram a conclusão praticamente unânime de que se tratava de uma falsificação. Eram muitas as evidências, tanto físicas quanto linguísticas, de que não se tratava de um texto antigo.
Em abril de 2014, uma edição do conceituado periódico Harvard Theological Review foi inteiramente consagrada à discussão do fragmento. Alguns chegaram a pensar que os testes químicos feitos principalmente com a tinta usada no fragmento poderiam comprovar ou ao menos advogar em favor da autenticidade do documento.
Mas o tiro acabou saindo pela culatra e esses testes acabaram por fornecer as provas definitivas de que se tratava de uma falsificação.
Já discutimos bastante e detalhadamente tudo isso aqui no blog, não vou ficar me repetindo. Quem não acompanhou a discussão e quiser saber de tudo, pode dar uma olhada aqui.
Mas se não restam dúvidas de que se trata de uma falsificação, porque estamos de volta a esse assunto? A resposta é simples: a imprensa ressuscitou o assunto.
Em princípio, não há nenhuma novidade, eles apenas requentaram aquilo que já se sabia.
Aparentemente, novos estudos foram conduzidos pelas Universidades de Harvard e Columbia, e esses estudos demonstraram que o papiro é autêntico. Ao menos é isso que diversas matérias que tem circulado em grandes sites e agências de notícias têm dito. Imagino que com isso eles queiram dizer que o papiro do fragmento é de fato antigo.
Isso não é novidade nenhuma; muito se especulou ainda em 2012 sobre a possibilidade de o papiro de fato ser antigo, inclusive, me parece que foi isso que o especialista em papirologia, Roger S. Bagnall, atestou. Nesse caso, o falsificador moderno teria adquirido um papiro antigo no mercado negro de antiguidades, usando-o assim para fazer sua falsificação. Nós também discutimos essa possibilidade aqui no blog.
Assim sendo, o papiro seria antigo, mas o que foi escrito nele foi certamente obra de um falsificador moderno.
Mas como o falsificador conseguiu adquirir um papiro antigo? Ora, conseguir um fragmento de papiro antigo pode ser mais fácil do que vocês imaginam. Vários desses fragmentos podem ser encontrados no mercado negro de antiguidades e muitos são até vendidos via e-bay, como o esse blog já mostrou (clique aqui).
Ou seja, não há nada de novo sobre o famigerado 'Evangelho da esposa de Jesus'.
Daqui a alguns anos eles pegam essa história e requentam de novo, querem apostar?