terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Jesus e a Mídia: da Páscoa ao Natal

Essa foto foi tirada por mim mesmo há algumas semanas. Eu passava ao lado de uma banca de jornais e percebi que havia mais uma revista com um "dossiê especial" sobre Jesus. Esse tipo de dossiê é extremamente comum nessa época do ano; com a proximidade do Natal sempre aparecem reportagens "reveladoras" sobre Jesus, ou documentários que buscam desvendar a "verdade" sobre ele.
Eu mesmo já fui entrevistado por uma jornalista do UOL que fez uma matéria sobre a data do Natal (na ocasião, fiquei extremamente chateado, porque ela conseguiu manipular minhas respostas para fazer parecer que eu dizia algo que eu não disse, tanto que publiquei aqui no blog a entrevista na íntegra). 

No período anterior à Páscoa, acontece algo semelhante, uma avalanche de reportagens, dossiês e documentários sobre Jesus e aquilo que seria sua "verdadeira história". "Revelações" que envolvam Maria Madalena e sua relação com Jesus são particularmente vinculadas por esse tipo de dossiê midiático. 

Esse tipo de coisa é orquestrada, claramente. As editoras e canais de documentários sabem que no Natal e Páscoa, a sensibilidade religiosa das pessoas está à flor da pele e que esse tipo de notícia tende a gerar mais polêmica e fazer mais sucesso. Muita gente, principalmente nos países de primeiro mundo, só vai à Missa e culto nessas épocas do ano. 

Vale lembrar que nos últimos anos acompanhamos aqui no blog vários desses episódios. A versão original do livro O Código da Vinci, por exemplo, foi lançada nos EUA no dia 18 de março de 2003, em plena Quaresma daquele ano e cerca de um mês antes da Páscoa. Em 2006, o documentário da National Geographic sobre o Evangelho de Judas foi lançado no Domingo de Ramos. No ano seguinte, foi a vez do Discovery Channel lançar o documentário sobre o ossuário de Tiago no mesmo período do ano. 
E esse ano, vimos o aparecimento de mais um "Evangelho Secreto" em meados do mês de novembro, já no período que antecede o Natal. 

De certa forma, isso demonstra também que as pessoas ainda se interessam pelo cristianismo. Por que não são "descobertos" manuscritos que falam de Platão ou de Alexandre, o Grande? Porque eles não mexem com a sensibilidade religiosa e espiritual das pessoas como Jesus. Por mais que parte do mundo moderno tente desdenhar Jesus e o Cristianismo, tente demostrar que eles não despertam mais absolutamente nenhuma reação nas pessoas, fica claro que não é esse o caso. Caso contrário, revelações sobre Jesus, por mais falsas e estapafúrdias que sejam, não chamariam tanta atenção e não dariam tanta audiência nem gerariam tanto lucro para as editoras e as emissoras de TV. 


Mas se o interesse por Jesus ainda existe, fica claro que se trata de um interesse diferente do tradicional, um interesse com outros significado. Esse tipo de notícia demonstra que há uma tentativa de ao mesmo tempo dessacralizar Jesus e questionar a autoridade eclesiástica. O teor desse tipo de notícia é sempre o mesmo: Revelar o verdadeiro Jesus, o Jesus que foi escondido pela Igreja, que foi deturpado por séculos de domínio eclesiástico. Assim sendo, o Jesus dos apócrifos seria o verdadeiro Jesus, aquele que a Igreja nunca quis que descobríssemos. E esse verdadeiro Jesus é muito mais mundano do que imaginávamos: ele foi casado com Maria Madalena e teve filhos, teve irmãos, era uma espécie de "mestre espiritual" aberto a todas as espiritualidades e bem "ecumênico", etc. 


Essa tentativa de dessacralização de Jesus não tem nada de histórica; trata-se, na verdade, de uma tentativa de adaptar Jesus e seus ensinamentos aos anseios do mundo contemporâneo. Querem transformar um judeu do séc. I em uma série de coisas completamente anacrônicas: um revolucionário moderno, um hippie politicamente correto, um defensor dos animais, etc. 

Enfim, tomemos cuidado para não cair nessas conversas fiadas. 2015 está aí, vamos ver se saí algo de novo na Páscoa.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

O que Constantino tem a ver com o Cânon e a Bíblia?

Fragmento de uma estátua de Constantino, o Grande


O imperador romano Constantino, também conhecido como "Constantino, o Grande", é sem dúvida um dos mais importantes personagens da história do cristianismo. Constantino não foi clérigo, nem teólogo ou santo, mas seu governo e suas ações foram de fundamental importância para a aquisição de um caráter institucional por parte da Igreja e pelo fim das perseguições aos cristãos no início do séc. IV (confira o post sobre o Edito de Milão). Foi a partir do governo de Constantino que a Igreja passou a ser uma instituição reconhecida pelo Estado. Mas, se por um lado, a Igreja deixou de ser perseguida, por outro, teve de passar a conviver com as tentativas de ingerência imperial nos assuntos eclesiásticos, doutrinais e dogmáticos. Essas tentativas de ingerência foram praticadas tanto por Constantino quanto por seus sucessores, mas raramente aceitas pelas autoridades da Igreja, o que chegou, inclusive, a causar o exílio de bispos (Atanásio de Alexandria, por exemplo, não arredou pé e foi exilado 5 vezes, por 5 imperadores diferentes). 

E é isso que muitas vezes causa confusão na cabeça das pessoas, que acabam achando que por conta dessas ingerências, a influência do poder temporal no poder espiritual foi maior do que é contado pela "história oficial". 

Voltando a Constantino, sua importância para a história do cristianismo e consequentemente da Igreja é tão grande que muita gente acaba lhe atribuindo atos e interferências em assuntos eclesiásticos que ele nunca praticou. O melhor exemplo disso é a lenda segundo a qual ele seria o verdadeiro responsável pela definição do Cânon bíblico (livros que compõem a Bíblia), tendo retirado e incluído os livros que bem entendesse na Bíblia. Mais do que isso, esse ato teria sido praticado no Concílio de Niceia (no ano de 325), um dos momentos mais importantes e representativos da História da Igreja. 

Confesso não saber a origem dessa lenda sobre Constantino definindo o Cânon no Concílio de Niceia, mas ela certamente ganhou popularidade e passou a ser parte do senso comum depois do sucesso do Código da Vinci, de Dan Brown, publicado em março de 2003, tendo virado filme de Hollywood alguns anos depois (2006, Columbia Pictures). Na era da Internet e das redes sociais, é comum ver gente divulgando essa informação falsa por aí, e pior, com ares de cientificidade e cheios da verdade, usando como "fonte" o próprio Dan Brown.         

É verdade que Constantino teve um papel importante no Concílio de Niceia, mas muito mais na sua convocação do que no seu desenvolvimento e nas suas decisões. Mas o mais importante no tocante a essa questão do Cânon é que o Concílio de Niceia simplesmente não discutiu nem proclamou nada em relação a isso. Voltaremos a essa questão mais tarde. 

Por hora, discutamos a convocação do Concílio de Niceia. Para que se possa entender o Concílio em questão e sua convocação, é necessário entender a discussão teológica que o gerou. No início do séc. IV, um popular presbítero chamado Ário começou a proclamar em Alexandria que Jesus era uma criatura; a mais excelsa das criaturas, criada antes do tempo e por meio da qual todo o resto teria sido criado, mas mesmo assim, uma criatura. Como o foco do post não é o arianismo (doutrina de Ário e suas vertentes), não vamos nos ater aos detalhes dessa questão, mas apenas elucidar que com o tempo, as ideias de Ário se popularizaram e se espalharam por toda a cristandade, que, na época em questão, praticamente coincidia com o Império Romano. 

E o imperador da época era exatamente Constantino. Para Constantino, a unidade do cristianismo e da Igreja coincidiam com a unidade de seu império. Com o Edito de Milão e o fim das perseguições, o cristianismo tornou-se gradualmente a religião majoritária do Império Romano e uma divisão entre os cristãos poderia acarretar numa divisão política. Por isso, Constantino tentou se envolver na discussão, enviando seu teólogo pessoal, Osius, bispo de Córdoba, para Alexandria, foco do arianismo. A tentativa de conciliação em questão não deu certo, então, Constantino decidiu convocar aquilo que seria o primeiro Concílio Ecumênico da história da Igreja, o Concílio de Niceia, em 325. Osius de Córdoba teve um papel fundamental no Concílio, mas isso foi o mais perto que Constantino esteve de participar ativa e efetivamente do evento.

Posto isso, voltemos à questão do Cânon. A principal discussão do Concílio de Niceia não visava, nem de longe, a questão do Cânon, mas a divindade de Cristo e a maneira como ela deveria ser expressa dogmaticamente. Nem nas discussões adjacentes do Concílio, a questão do Cânon foi abordada. Foram discutidas questões relativas às estruturas eclesiásticas, à dignidade do clero, readmissão de cismáticos e hereges, e prescrições litúrgicas, por exemplo. Não houve absolutamente nenhuma discussão sobre o Cânon (quem quiser conferir o Símbolo do Concílio de Niceia em português e o conteúdo de cada um dos assuntos discutidos, pode dar uma olhadinha no Wikipedia clicando aqui). Quem quiser olhar uma fonte menos acessível, mas mais confiável, pode consultar manuais de Patrologia (eu indico o do Altaner & Stuiber ou o do Drobner; sempre uso ambos nas minhas aulas).   

A lenda sobre a qual falamos acima (Constantino seria o verdadeiro definidor do Cânon), portanto, simplesmente não procede. Constantino foi muito importante para a história do cristianismo, sem dúvida. Mas no Cânon e em assuntos dogmáticos ele nunca tocou. 

Mas como o Cânon foi definido? Porque alguns livros foram incluídos na Bíblia e outros não? O que são "apócrifos"?  

Esse é um assunto para o próximo post. Aguardem.  

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Mais um "Evangelho Perdido" é encontrado

Esse blog existe há cerca de oito anos. Acho que nesse período, passei mais tempo "desmistificando" e desmentindo notícias falsas sobre complôs eclesiásticos, "evangelhos secretos" e exegeses estapafúrdias do que falando de qualquer outra coisa. Bom, chegou a hora de fazer isso novamente. 

Com a chegada do Natal, a possibilidade de surgir uma notícia bombástica e estapafúrdia sobre Jesus, de preferência envolvendo Maria Madalena, sempre aumenta. Natal e Páscoa são as datas prediletas para isso (quem acompanha o blog sabe muito bem disso). 
Pois então, eis que me deparo com a seguinte notícia hoje à tarde, indicada no Facebook pelo blog o Catequistaque me pediu gentilmente para escrever sobre o assunto: 

"Manuscrito de 1500 anos comprova que Jesus teve filhos com Maria Madalena, dizem pesquisadores". 

A notícia foi publicada no site do jornal "O Globo" e quem quiser conferir, pode clicar aqui.  

Notem que a notícia é dada em poucas linhas, em um artigo curtíssimo, de apenas seis parágrafos, sem espaços para detalhes. Como eu disse uma vez a um amigo que sempre me indaga sobre esse tipo de coisa, essa falta de detalhes e informações precisas é o primeiro fator que deve nos levar a desconfiar da notícia. Como eu posso julgar a veracidade da informação sem saber detalhes? Sem saber como o manuscrito foi datado, de onde ele vem, em qual língua está escrito, se é papiros ou pergaminho, a quem a autoria é atribuída, etc? Eu sequer conheço o conteúdo propriamente dito e exato do texto, mas apenas o que a matéria do Globo me disse. Não sei se se trata de uma narrativa em primeira ou segunda pessoa, por exemplo. Qual o tamanho do texto, etc.  

Claro que essas informações são precisas demais e o objetivo do artigo de jornal é informar o grande público, e não os estudiosos. Mas mesmo assim, a falta de informações precisas pode ser um indício de que se trata de mais uma pilantragem. 

Na matéria em questão, é dito que um manuscrito de 1500 anos foi encontrado na Biblioteca Britânica e que esse mesmo manuscrito, segundo especialistas, conteria um texto chamado "Evangelho Perdido" e comprovaria que Jesus e Maria Madalena teriam sido casados e tido dois filhos. O texto estaria escrito em aramaico e teria sido traduzido pelo professor Barrie Wilson e o escritor Simcha Jacobovic. 

O Globo cita como fonte para a notícia o famoso jornal inglês "The Sunday Times". Por fim, a matéria cita que esse tal "Evangelho Perdido" não é o primeiro a afirmar que Jesus e Maria Madelena foram casados, já que Nikos Kazantzakis em A Última Tentação de Cristo  Dan Brown no Código da Vinci já fizeram tal afirmação.   


Analisemos as inconsistências da notícia: 

Primeiro, ainda não se sabe nada sobre a origem desse manuscrito, nem como foi feito para ele ser datado. Aliás, sendo sincero, eu diria que não se pode sequer afirmar que ele existe ainda, já que nem foto eu vi. Depois dos casos escabrosos do "Evangelho da Esposa de Jesus", uma falsificação comprovada e que foi discutida em detalhe aqui no blog, e do "Evangelho de Barnabé" e do "Evangelho Secreto de Marcos", o mínimo que se espera é que as autenticidades do manuscrito e do texto sejam comprovadas.

Além disso, é dito que o manuscrito tem cerca de 1500 anos (o que faria dele um manuscrito fabricado por volta do ano 500, digamos), mas nada é dito sobre data de composição original do texto. Notem que se trata de duas coisas diferentes: o manuscrito contém uma cópia do texto, cópia que pode ter sido feita vários séculos ou pelo menos várias décadas depois de o texto ter sido composto. E em geral é isso que acontece com manuscritos antigos. 
De qualquer modo, como não sei nada sobre a composição original, só posso me ater ao que a matéria diz sobre o manuscrito. 
O fato de a matéria dizer que o manuscrito está escrito em aramaico é bastante significativo porque pode indicar que quem escreveu a própria matéria quer que o leitor associe o texto diretamente a Jesus, já que o aramaico era a língua falada por Jesus e os apóstolos. Ora, um texto em aramaico, pelo menos na cabeça do grande público, aumenta as possibilidades de autenticidade, de ser algo que estaria diretamente ligado ao próprio Jesus. 
Só que o aramaico falado por Jesus e os apóstolos desapareceu por volta do ano 200 d.C. Portanto, poderíamos nos perguntar: é possível que um manuscrito do séc. V esteja escrito no aramaico de Jesus? Me parece que não. 

Outra inconsciência bem simples, que qualquer um pode entender: seria lógico atribuir rigor histórico a um único testemunho textual, conhecido por meio de um único manuscrito copiado quase 500 anos após a morte de Jesus? Acho que eu nem preciso responder essa pergunta aqui, né?!      

Portanto, mesmo que esse texto exista (e, repito, depois do fiasco do Evangelho da Esposa de Jesus, me dou ao direito de duvidar que ele exista), ele não comprova nem de longe que Jesus e Maria Madalena tenham sido casados. Ele demonstraria, no máximo, que alguém no séc. V (500 anos depois de Cristo ter morrido) acreditava ou queria que se acreditasse que Jesus foi casado. Nada, absolutamente nada, a mais que isso. 

Para fechar com "chave de ouro", a matéria cita obras de ficção para dizer que outros já tinham levantado a possibilidade de Jesus e Maria Madalena terem sido casados. Ora, obras de ficção não são fontes históricas nem historiografia. Não se pode basear o estudo histórico nesse tipo de literatura. Usar o Código da Vinci para estudar o Jesus histórico seria como usar "Bastardos Inglórios" para estudar a 2a Guerra Mundial. E no caso específico do Código da Vinci, eu mesmo tratei da questão em várias palestras ao longo de 2006 e 2007 e em breve um artigo meu sobre o assunto será publicado em um livro pela Editora Prismas.  

Enfim, a matéria do Globo diz que o texto será lançado pela Editora Pegasus na quarta-feira. Se tivermos informações precisas sobre a questão depois disso, escrevo aqui novamente. 
Aliás, não consegui entender se a matéria fala da editora Pegasus internacional (Pegasus Press) ou da editora nacional com o mesmo nome.
De qualquer modo, vale dizer que nem uma das duas se notabiliza por publicar obras acadêmicas. Uma descoberta desse porte mereceria ser publicada por uma das grandes editoras de estudos bíblicos, como, por exemplo, a Brill ou a Oxford University Press, não? 
Sem querer ofender, mas isso seria mais um indício de pilantragem? 


Enfim, algo me diz que até o Natal, ainda vamos ouvir falar disso. Atenção para as cenas do próximo capítulo. 


Atualizando

Nessa quarta-feira, novas informações sobre o tal "Evangelho Perdido" foram divulgadas e a falta de noção e honestidade intelectual dos autores citados acima ficou ainda mais nítida. 

O texto na verdade é a História Eclesiástica de Zacarias, o Retor. Também conhecido como Zacarias Escolástico, esse escritor foi bispo e historiador e viveu na virada do séc. V para o séc. VI. 

O manuscrito em questão é de pergaminho e se encontrava na Biblioteca do Museu Britânico desde o séc. XIX. 

A língua na qual o texto está escrito é, na verdade, o siríaco, e não o aramaico, como havia afirmado a matéria do Globo. 

Assim sendo, todas as críticas feitas acima sobre o texto permanecem: trata-se de um texto tardio, conhecido por meio de um único manuscrito cuja data é cerca de 500 anos posterior à morte de Jesus. 

O mais grave, porém, não diz respeito exatamente à datação do texto ou do manuscrito, mas sim a seu conteúdo, ou, de maneira mais precisa, à maneira como Wilson e Jacobovic interpretaram o conteúdo. 

No texto, Jesus e Maria Madalena não são sequer mencionados. O texto conta a história de um tal José e Aseneth, que teriam se casado. Segundo os autores, esses personagens são representações de Jesus e Madalena, respectivamente. 

Enfim, isso é muito mais do que forçar a barra. Isso quase que me dá saudades do Evangelho de Judas, naquela época, pelo menos, a enganação era mais elaborada. 


Detalhe importante que tinha me passado desapercebido, Jacobic foi um dos realizadores do documentário exibido no Discovery Channel em 2007 sobre o "ossuário de Tiago, o irmão de Jesus". Na época, foi demonstrado que se tratava de mais uma falsificação. E vale lembrar que esse documentário seguiu o padrão citado lá no começo do post: foi lançado às vésperas da Páscoa. 

  

sexta-feira, 25 de abril de 2014

A tinta do fragmento da "Esposa de Jesus" e a evidência (definitiva) de falsificação.

A internet é realmente fantástica. A mesma internet que nos bombardeia diariamente com informações falsas e inúteis, também é um grande instrumento de colaboração acadêmica, por exemplo. Sem a internet, a rápida e eficiente comunicação entre estudiosos de diferentes países, fundamental na identificação da fraude do fragmento que ficou conhecido como "Evangelho da Esposa de Jesus, jamais seria possível. 

Na última quinta-feira, dia 24 de abril de 2014, outro capítulo dessa saga pôde ser visto. O colega Christian Askeland, que tive o prazer de conhecer pessoalmente em dezembro de 2013, num congresso em Oslo,  escreveu um post esclarecedor em seu blog. No mesmo dia, algumas horas depois, meu amigo Alin Suciu publicou em seu blog algumas informações adicionais, tomando como ponto de partida a descoberta de Askeland. 

Antes de falar das descobertas de Askeland e Suciu propriamente ditas, falemos de um ponto específico discutido na edição especial da Harvard Theological Review publicada no início do mês de abril de 2014 (fizemos um post sobre o assunto aqui no blog). 

Espero que as considerações a seguir não sejam técnicas demais; a maioria das informações é de difícil compreensão para quem não é da área. Mas como o objetivo do blog é tornar tais informações acessíveis, me esforcei ao máximo para ser claro. 

Um dos assuntos discutidos na edição em questão, a tinta usada no manuscrito, foi tida como o melhor argumento em favor da autenticidade do fragmento. Segundo a análise, trocando em miúdos, a tinta era compatível com a tinta usada em outros fragmentos antigos ou medievais. Inclusive, foi o ponto abordado pela grande mídia, que divulgou coisas como "segundo especialistas, o EEJ não é falso". Vale lembrar, no entanto, que mesmo que a tinta fosse compatível com tintas usadas em manuscritos antigos, a falsificação não estava descartada, pois nada impediria que o falsificador usasse uma tinta semelhante às antigas. Como a datação da tinta não foi feita, essa possibilidade continuava a existir. 

Pois bem, aquilo que parecia ser o principal (e único) argumento em favor da autenticidade do fragmento tornou-se a pista para que mais uma evidência - talvez a definitiva - fosse encontrada. 

O que muitos (eu, inclusive) não sabiam, é que aparentemente uma das amostras de tinta utilizadas na comparação vinha de um outro fragmento de origem desconhecida que contém um trecho do Evangelho de João. E esse fragmento faria parte do mesmo conjunto de fragmentos do qual faria parte o "Evangelho da Esposa de Jesus" e teria sido entregue à King pela mesma pessoa que lhe entregou o "Evangelho da Esposa de Jesus". Ora, uma tal comparação apresenta, por si só, vários problemas metodológicos. Como basear tal comparação em um fragmento de origem e datas desconhecidas?

De qualquer forma, o melhor ainda estaria por vir. Christian Askeland analisou paleograficamente o fragmento do Ev. de João e concluiu que o escriba que copiou o texto é o mesmo que copiou o texto do fragmento do "Evangelho da Esposa de Jesus"; e mais, ele (ou ela) o fez utilizando o mesmo instrumento. Askeland foi além e observou que o fragmento do Ev. de João estava escrito no dialeto Licopolitano do copta; e é aí que a cobra começou a fumar.

Sabe-se que a maioria dos dialetos "menores", entre eles o licopolitano,  do copta começou a desaparecer gradualmente a partir do séc. V; não há mais traços desse dialeto a partir do séc. VI. Mas se lembrarmos da datação dos fragmentos (tanto o do Ev. João, quanto o do "Evangelho da Esposa de Jesus") feita pelo tal carbono 14 - entre os séculos VII e IX - algo não bate. Não existia mais dialeto licopolitano nessa época.

Askeland foi além e descobriu que o fragmento do Ev. de João é uma reprodução fiel do chamado Codex Qau, escrito em Licopolitano. O codex em questão foi editado em 1924 por Herbert Thompson (para mais detalhes, em inglês, clique aqui).  

Suciu seguiu a pista apontada por Askeland e descobriu que a disposição das linhas no fragmento segue exatamente a disposição das linhas da edição de Thompson (para mais detalhes, em inglês, clique aqui). Ou seja, trocando em miúdos, o falsificador moderno simplesmente copiou o texto da edição de Thompson. 

Suciu postou em seu site uma foto na qual ele coloca, lado a lado, o fragmento do Ev. de João e a foto da edição de Thompson com o trecho correspondente, para não deixar dúvidas que a disposição das linhas é a mesma. Quem souber um pouquinho de copta, pode dar uma olhada: 



Algo semelhante já havia sido dito sobre o próprio "Evangelho da Esposa de Jesus"; ao que tudo indica, o falsificador moderno - o mesmo que falsificou o supracitado fragmento do Ev. de João - copiou frases soltas do Ev. de Tomé, usando igualmente uma edição moderna.

Como a pessoa que copiou ambos os fragmentos é a mesma, não resta dúvidas em relação à falsificação. Aquilo que todos já sabiam, foi confirmado definitivamente. Como o próprio Suciu disse, "caso encerrado".    

O prof. Louis Painchaud sugeriu uma possibilidade interessante ontem: e se o falsificador tivesse deixados pequenas pistas de que se trata de uma falsificação, para ver se eram descobertas? E se ele fez isso para "testar" os estudiosos? Para ver se eram capazes de descobrir a fraude. 

Resta agora saber se King vai se pronunciar sobre o assunto e se saberemos quem é o falsificador.   

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Edição especial da 'Harvard Theological Review' sobre o 'Evangelho da Esposa de Jesus'

A edição de abril de 2014 do periódico Harvard Theological Review publicou uma série de artigos sobre o polêmico Evangelho da Esposa de Jesus. Como era esperado (inclusive, sugerimos isso aqui no blog), a edição em questão saiu nas vésperas da Páscoa.
O conteúdo dos artigos é variado; questões materiais - como a data do papiro e a composição da tinta - são discutidas.
Vejam a lista completa dos artigos dessa edição que tratam do assunto: 

- Karen King. "'Jesus said to them, 'My wife...'': A New Coptic Papyrus Fragment".

- Malcolm Choat. "The Gospel of Jesus's Wife: A Preliminary Paleographical Assessment".

- James T. Yardley e Alexis Hagardorn. "Characterization of the Chemical Nature of Black Ink in the Manuscript of the Gospel of Jesus's Wife through Micro-Raman Spectroscopy".

- Joseph M. Azzarelli, John B. Goods e Tomothy M. Swager. "Study of Two Papyrus Fragments with Fourier Transform Infrared Microspectroscopy".

- Gregory Hodgins. "Accelerated Mass Spectrometry Radiocarbon Determination on Papyrus Samples". 

- Noreen Tuross. "Accelerated Mass Spectrometry Radiocarbon Determination on Papyrus Samples".

- Leo Depuydt. "The Alleged Gospel of Jesus's Wife: Assessment and Evaluation of Authenticity".

- Karen King. "Response to Leo Depuydt 'The Alleged Gospel of Jesus's Wife: Assessment and Evaluation of Authenticity'". 


Como a edição saiu nesta manhã, ainda não pude ler todos os artigos com calma; de qualquer modo, creio que os artigos sobre as questões materiais escritos por físico-químicos (ou seja lá como eles se chamam) sejam técnicos demais. Dificilmente vou entender todos os detalhes.

De qualquer modo, já posso tecer aqui algumas considerações preliminares sobre a questão. Obviamente, o resultado dos testes da tinta era a parte mais interessante e esperada dessa edição da HTR.

Trocando em miúdos e sendo bem direto, os testes em questão simplesmente não trazem nada de novo ao debate. Pelo que pude ler, os testes da tinta foram inconclusivos. Ou seja, nada de novo se sabe sobre a questão. 

Segundo a notícia preliminar que eu li no NYT, em relação ao papiro, analises foram feitas por três equipes de de cientistas (engenheiros, biólogos e químicos) da Universidade de Harvard, da Universidade de Columbia e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts.
Os resultados desses testes foram igualmente inconclusivos. Um dos testes datou o papiro entre os séculos III e V d.C.; o outro teste aponta que o papiro data do séc. VIII a.C. (isso mesmo, antes de Cristo, algo completamente inverosímel).
As divergências entre os resultados dos 2 testes - e em particular a inverosímel possibilidade de um papiro datar do séc. VIII a.C. - demonstram a falta de credibilidade e exatidão desse tipo de teste. Relatórios posteriores dizem que o teste feito em Arizona sugeriu uma datação entre os  sécs. V e III antes de Cristo. Uma data que continua sendo inverosímel.

Segundo Christian Askeland, um dos mais notórios estudiosos de manuscritos antigos atualmente,  a data mais provável do papiro deveria ser situada entre os sécs. VII e IX depois de Cristo (para mais detalhes, clique aqui).


De qualquer modo, a possibilidade de um papiro antigo que foi usado na falsificação já havia sido levantada por alguns estudiosos. Deve-se lembrar, no entanto, que o papiro em si é apenas um dos componentes do fragmento. É perfeitamente possível comprar pedaços de papiros antigos hoje em dia, tanto no mercado negro no próprio Egito, quanto na internet, como o próprio blog já mostrou (clique aqui).
É perfeitamente possível que o falsificador tenha adquirido um desses pedaços de papiros antigos para realizar sua falsificação.
Enfim, todos os outros problemas que apontam para uma falsificação - a gramática, a paleografia, o formato do fragmento, etc. - amplamente discutidos aqui e em vários outros blogs, continuam a existir. A possibilidade de falsificação continua sendo a mais provável.

Em suma, nada de novo foi acrescentado ao polêmico caso.        
    

   


terça-feira, 8 de abril de 2014

O colega Marcus Vinícius Ramos e o Apocalipse Siríaco de Daniel


Esse post serve para fazer a publicidade de uma matéria interessantíssima no site da Universidade de Brasília sobre o trabalho pioneiro e de qualidade que o colega Marcus Vinícius Ramos vem fazendo com o Apocalipse Siríaco de Daniel.
A matéria pode ser acessada clicando aqui.  
Trata-se da primeira tradução de um texto siríaco feita diretamente para o português. 
Parabéns ao Marcus! 
Precisamos de mais trabalhos acadêmicos audazes como esse no Brasil. 


sábado, 8 de março de 2014

O Feminino como modelo no cristianismo antigo

Ícone oriental da Virgem Maria com o menino Jesus.
Como de hábito, a Virgem segura Jesus com a mão
esquerda e o apresenta com a mão direita
Vocês sabem que eu adoro um post temático, e como hoje é o dia internacional da mulher, o blog não poderia deixar de escrever algo sobre essa questão em específico. 

Pois bem, o post de hoje não será muito longo, mas fará algumas considerações sobre o feminino como modelo no cristianismo antigo. 

Costuma-se ouvir por aí que o cristianismo é uma religião machista que não dá valor à mulher. Este breve post tentará mostrar o contrário, pelo menos no tocante à antiguidade. 

Comecemos por Maria Madalena que, ao ao longo da história, se transformou no estereótipo da pecadora arrependida, um exemplo a ser seguido por todos os cristãos. Se por um lado ela foi uma pecadora possuída por demônios (Mc 16, 9; Lc 8, 2), por outro soube amar Jesus, arrepender-se e ser perdoada, tendo sido, inclusive, agraciada com a honra de ser a primeira testemunha da ressurreição (Mt 28,1; Mc 16,1; Lc 24,10; Jn 20,1 e 18). 

Pode-se apontar diversos outros modelos femininos no cristianismo antigo,  ainda nos relatos evangélicos, lê-se sobre as chamadas “santas mulheres”, que, contrariamente à maioria dos apóstolos, permaneceram fiéis a Jesus no momento da crucificação (Jn 19, 25) e foram as primeiras testemunhas da Ressurreição e anunciadoras do evangelho (Mt 28, 1-10; Mc 16, 1-8; Lc 24, 1-11; Jn 20, 1-18). Tal fato, rendeu-lhes, inclusive, o epíteto de "apóstola de apóstolos", dado por Hipólito de Roma (fim do séc. II- início do séc. III) em seu Comentário sobre o Cântico dos Cânticos. Hipólito atribui esse título às santas mulheres porque um dos pilares da fé cristã é a Ressurreição; como as santas mulheres foram as primeiras a anunciarem a Ressurreição (a anunciaram aos próprios apóstolos), isso fez delas "apóstolas de apóstolos". 

No Apocalipse, se por um lado há a figura feminina negativa personificada na “prostituta escarlate” (Apoc 17, 4), por outro há a esposa do Cordeiro (Apoc 19, 7 e 21, 9) e a mulher vestida de sol (Apoc 12, 1-6). A partir do sec. II, o culto de mártires, tidos como modelo por boa parte dos cristãos, se propaga por toda a cristandade, e muitos deles são mulheres, como Inês, Cecília e Anastácia. 

Mas, obviamente, nenhum modelo feminino se compara à Virgem Maria, descrita já nos relatos evangélicos de maneira positiva (Mt 1, 18; Lc 1: 26-38.42). Mas é a partir principalmente do séc. IV, que o culto à Virgem Maria se espalha pela cristandade de maneira quase unânime, como podem comprovar diversas fontes, como a Epístola de Atanásio às Virgens (que elege a Virgem Maria como modelo a ser seguido por todos os que vivem o celibato) e os diversos escritos que fazem parte dos círculos literários conhecidos como Dormitio Mariae e Transitio Mariae, que falam, respectivamente da dormição e da assunção da Virgem. Por último, vale destacar a decisão dogmática do Concílio de Éfeso, em 431, que reconhecia que a Virgem Maria era a mãe de Deus, atribuindo-lhe o título honorífico de theotokos.

quinta-feira, 6 de março de 2014

A Quarta Besta de Daniel e Alexandre, o Grande

Capa do Livro
É com muita alegria que divulgo aqui no blog o livro do meu amigo Diego Lopes da Silva. O título do livro é A Quarta Besta de Daniel: Representação do Governo de Alexandre, o Grande.

Trata-se de uma versão revisada da dissertação de mestrado do Diego. A Editora Prismas é responsável pela publicação. 
O lançamento oficial do livro está previsto para junho desse ano. 

Quem quiser saber mais detalhes, clique na legenda da foto da capa do livro (que diga-se de passagem, ficou muito bonita), ou diretamente no link abaixo:

http://editoraprismas.com/loja/product_info.php?products_id=328 

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Conferência na UFRJ: Literatura Apocalíptica Judaica e Persa


Para quem é do Rio, uma ótima oportunidade de ver uma conferência sobre um assunto interessante ministrada por um especialista no assunto. 
O conferencista é o Prof. Vicente Dobroruka, do Dep. de História da Universidade de Brasília. Dobroruka é fundador e coordenador do PEJ (Projeto de Estudos Judaico-Helenísticos) e um grande amigo meu. Resumindo, é o responsável por eu ter começado a estudar o que estudo hoje.
Conferência imperdível! 

 

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A volta do "Evangelho da Esposa de Jesus"


Depois de mais de um ano de sua divulgação, em setembro de 2012, o "Evangelho da Esposa de Jesus" volta à tona, ao menos nos bastidores acadêmicos. 

Aparentemente, não há nada de novo em relação à questão da sua autenticidade; todo mundo continua achando que se trata de uma falsificação. Mas parece que todos aqueles que investiram dinheiro nessa empreitada - logo desmascarada por estudiosos do cristianismo primitivo do mundo inteiro - vão tentar lançar a polêmica novamente na mídia. 

Em outubro de 2012, meu orientador trocou e-mails com Karen King; a professora estadunidense dizia que os testes químicos da tinta usada no fragmento seriam feitos em breve. Ela não voltou a tocar no assunto, porém. Em novembro de 2013, King esteve na reunião anual da SBL (Society of  Biblical Literature), em Baltimore; eu mesmo tive a oportunidade de trocar algumas palavras com ela, mas, obviamente, não toquei no assunto, e nada a respeito do fragmento foi dito. 

No final do ano passado, uma tradutora que conhece meu orientador ligou para ele dizendo que estava trabalhando na tradução de um documentário do canal francês "Historia" sobre o "Evangelho da Esposa de Jesus"; tratava-se do documentário feito pelo canal estadunidense Smithsonian, o mesmo documentário que, depois das polêmicas em relação à autenticidade do fragmento, foi cancelado. 
Esse documentário pode ser visto no youtube, dublado em francês. Logo, para entendê-lo, é necessário ter um conhecimento razoável da língua em questão: 

Os 20 primeiros segundos do documentário já bastam para que se possa conhecer seu teor; trata-se, obviamente, de um filme bem sensacionalista. Eu mesmo não consegui assistir, preferi parar a passar raiva até o fim. Mas, eventualmente, não terei escolha: vou ter de assisti-lo até o fim. 



Ao que parece, o Simithsonian arrumou um jeito de recuperar parte do dinheiro que investiu no documentário vendendo-o para o canal Historia. 

Mas talvez, este não seja o fim da polêmica. Algo me diz que, nas vésperas da Páscoa desse ano, voltaremos a escutar coisas sobre o "Evangelho da Esposa de Jesus". Eu não ficaria surpreso em ver a mesma tática usada na divulgação mediática do Evangelho de Judas  sendo usada na divulgação do "Evangelho da Esposa de Jesus". 

Não se sabe ainda o resultado do teste químico da tinta do fragmento. Mas talvez essa seja a carta na manga de quem vai divulgar mediaticamente o texto, aliado ao fato de o papiro em si provavelmente ser antigo. Vale lembrar, no entanto, que isso não pode, em hipótese alguma, ser considerado prova em favor da autenticidade do fragmento. É perfeitamente possível comprar fragmentos de papiros antigos pela internet, como esse próprio blog já mostrou (é provável que o falsificador tenha adquirido um fragmento antigo para realizar a falsificação).

De maneira análoga, o teste da tinta não pode dizer muita coisa: nada impede que o falsificador tenha usado uma tinta semelhante às tintas usadas na antiguidade. 
De qualquer modo, as evidências de falsificação, algumas delas amplamente discutidas nesse blog, são tão grandes, que eu arriscaria dizer que nada pode comprovar a autenticidade do manuscrito. 
Fiquemos atentos. Talvez tenhamos mais notícias nas semanas que antecedem a Páscoa desse ano.  




quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Não são somente os Coptas que sofrem com a profanação de Igrejas. Agora se pode ver isso em Belo Horizonte também

Em 2013, esse blog acompanhou com atenção e aflição os acontecimentos políticos no Egito - a "chamada primavera árabe"; acontecimentos que tiveram impacto direto na vida dos cristãos do país em questão.
Postamos aqui sobre a profanação e destruição de igrejas e edifícios coptas e sobre o fechamento do Mosteiro de Santa Catarina, no Monte Sinai. 
Infelizmente, a profanação de igrejas pode agora ser vista também em território brasileiro, com menos destruição material, é verdade, mas com o mesmo nível de desrespeito e intolerância.
No último domingo, dia 26 de janeiro, uma Missa na paróquia Nossa Senhora do Carmo foi interrompida por paroquianos enfurecidos que protestavam pelo afastamento de um frei.
Parte do lamentável episódio pode ser visto no vídeo abaixo





Para não fugir muito da temática do blog (Cristianismo antigo) quero dizer que esse episódio me fez lembrar de uma visão de Santo Antão, descrita no parágrafo 82, 6-7 de sua vida, escrita por Atanásio de Alexandria.
A visão se refere às profanações de culto feitas pelos arianos.
Não tenho a tradução em português aqui ao lado, portanto, vou parafrasear o que é dito na passagem:

Santo Antão disse que viu que a Igreja estava prestes a ser entregue a pessoas que mais pareciam animais irracionais.
Viu ainda o altar ser cercado por mulas dando coices nos que se encontravam ao redor do próprio altar para protegê-lo.

Qualquer semelhança com isso que aconteceu em Belo Horizonte é mera coincidência?
É particularmente triste isso acontecer logo após a semana de oração pela unidade dos cristãos.