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Ícone antigo representando Gregório
no trono papal |
Hoje, dia 3 de setembro, celebra-se no Ocidente a festa de São Gregório Magno, Papa entre os anos de 590 e 604. Seu papado começou no dia 3 de setembro, razão pela qual sua festa é celebrada hoje, e terminou no dia de sua morte, dia 12 de março, razão pela qual ele também é celebrado nessa data.
Ele foi o primeiro Papa vindo de um background monástico, e é um dos 4 grandes Padres da Igreja do Ocidente - juntamente com Jerônimo, Agostinho e Ambrósio. Ele também é Doutor da Igreja.
Gregório Magno viveu numa época na qual a Patrística já começava a viver seu declínio. As grandes controvérsias teológicas dos séculos IV e V já haviam sido resolvidas e os dogmas elaborados pelos 4 Grandes Concílios já tinham se consolidado - mesmo tendo, na maioria das vezes, causado cismas - o que limitava consideravelmente o âmbito das especulações teológicas. Além do mais, o debate intelectual, e consequentemente teológico, entre Oriente e Ocidente, tornou-se raro a partir da segunda metade do séc. V, por conta do desmanche do império romano, mas também devido às incompatibilidades linguísticas: o latim nunca chegou a se firmar no Oriente como língua falada ou escrita e o grego perdeu gradualmente sua importância no Ocidente - o que pode ser evidenciado pelo fato de Rufino de Aquiléia e Jerônimo (final do séc. IV, início do V) serem os últimos Padres da Igreja a escreverem em ambas as línguas.
Pois bem, poder-se-ia pensar que o fato de Gregório Magno ter vivido em tal época tenha sido uma barreira para sua produção teológico-literária; afinal, como ser um grande teólogo sem ter ao seu redor com quem dialogar, ou sem grandes questões teológicas sobre as quais refletir?
No entanto, não foi o que aconteceu. A produção teológico-literária de Gregório é a mais prolífica entre os Papas da antiguidade. Se por um lado, questões teológicas de grande profundidade e complexidade não são discutidas em suas obras, sua contribuição homilética é considerável, por exemplo. Sua contribuição para a consolidação da liturgia ocidental é incomensurável, e sua atuação pastoral é igualmente grandiosa.
Somente nos últimos 13 anos de sua vida, que coincidem com os anos de seu papado, Gregório escreveu mais de 850 Cartas. Dentre os sermões a ele atribuídos que são hoje julgados autênticos, tem-se 40 sobre os Evangelhos, 22 sobre Ezequiel e 2 sobre o Cântico dos Cânticos. Não se pode deixar de citar a famosa Magna Moralia - uma espécie de comentário sobre o livro de Jó - os Diálogos e a Regra para os Pastores, obra na qual Gregório fala da essência do trabalho episcopal, contrastando o papel dos bispos como pastores e suas posições nobiliárquicas dentro da Igreja.
Apesar de sua importância para a história da Igreja, há ainda muito a se descobrir e a se pesquisar em relação a Gregório. Esse post, por exemplo, tem como simples objetivo falar brevemente de sua produção teológico-literária. Poderíamos passar semanas aqui falando, por exemplo, das contribuições de Gregório para a liturgia. Quem sabe num próximo post.