segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Manuscrito copto-árabe sendo leiloado no Ebay

Foto de um dos lados da folha do manuscrito
sendo vendido no Ebay 
Fiquei sabendo por meio do meu amigo Alin Suciu que uma folha de um manuscrito copto-árabe, que contém doxologias do calendário copta, estava sendo leiloada no Ebay.
O lance mínimo era de US$15,00. O leilão terminou hoje, mas nenhum lance foi feito. O vendedor do item se chama 
yassine1959, mora no Líbano e colocou outros manuscritos para serem vendidos no Ebay.
Segundo a descrição do vendedor, o manuscrito tem cerca de 250 anos e está todo escrito em árabe.

Não é a primeira vez que nos deparamos com esse tipo de coisa, no próprio Ebay. Ano passado, escrevi um post sobre fragmentos gregos e coptas antigos sendo vendidos no mesmo site
   
 

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

E a 'Primavera Árabe' faz mais uma vítima: o milenar mosteiro de Santa Catarina é fechado

O Mosteiro de Santa Catarina, no Monte Sinai
O milenar mosteiro de Santa Catarina, no Monte Sinai, edificado há cerca de 1500 anos, é a mais nova vítima da chamada 'Primavera Árabe'. O mosteiro foi fechado por questões de segurança.

Como eu havia escrito há algumas semanas aqui no blog, os cristãos coptas têm sido vítimas de perseguição no Egito desde a deposição do presidente Mursi. Como alertado no post em questão, além das perdas humanas, a perda do patrimônio cultural e histórico era uma das preocupações. Mais de 60 igrejas e edificações coptas foram queimadas apenas nas primeiras semanas de ira contra os coptas.

Pois bem, por questões de segurança, para evitar que o mosteiro fosse atacado, queimado e destruído, as autoridades egípcias ordenaram que ele fosse completamente fechado no início do mês de julho. O governo egípcio não fez nenhuma declaração oficial, mas acredita-se que a medida foi tomada devido à tentativa de sequestro de um monge em junho, o que levantou suspeitas de que o Mosteiro pudesse ser atacado. Não há oficialmente nenhuma ligação do ocorrido com os ataques aos coptas desde a deposição de Mursi, mas não se pode deixar de notar que, face á destruição de tantas Igrejas coptas, o Mosteiro de Santa Catarina seria um alvo e tanto.

Famoso, dentre outras coisas, por ter abrigado o célebre codex sinaiticus, o Mosteiro de Santa Catarina recebe milhares de turistas todos os anos e é responsável por fazer funcionar a economia local. Nas últimas semanas, os beduínos que trabalham ao redor do Mosteiro fazendo passeios com os turistas abandonaram ou venderam cerca de 800 camelos; com o fechamento do mosteiro, esses beduínos perderam sua fonte de renda, e, sem renda, não podem comprar comida para seus camelos. Venderam os camelos para comprar comidas para si e suas respectivas famílias.     

Essa não é a primeira vez que o Mosteiro de Santa Catarina fecha suas portas. Nos últimos 50 anos, ele já havia sido fechado 2 vezes: a primeira em 1977, quando o então presidente egípcio, Anwar Sadat, visitou Jerusalém, a segunda em 1982, quando Israel invadiu o Monte Sinai. 


Mais informações sobre a questão podem ser lidas no artigo cujo link posto aqui. Fiquei sabendo do acontecido por meio do amigo Alin Suciu, que, por sua vez, o soube por meio do blog de Jim West:
http://www.al-monitor.com/pulse/originals/2013/09/st-catherine-shutdown-monastery-sinai-unrest.html

terça-feira, 3 de setembro de 2013

As obras de Gregório Magno

Ícone antigo representando Gregório
no trono papal 
Hoje, dia 3 de setembro, celebra-se no Ocidente a festa de São Gregório Magno, Papa entre os anos de 590 e 604. Seu papado começou no dia 3 de setembro, razão pela qual sua festa é celebrada hoje, e terminou no dia de sua morte, dia 12 de março, razão pela qual ele também é celebrado nessa data.
Ele foi o primeiro Papa vindo de um background monástico, e é um dos 4 grandes Padres da Igreja do Ocidente - juntamente com Jerônimo, Agostinho e Ambrósio. Ele também é Doutor da Igreja.

Gregório Magno viveu numa época na qual a Patrística já começava a viver seu declínio. As grandes controvérsias teológicas dos séculos IV e V já haviam sido resolvidas e os dogmas elaborados pelos 4 Grandes Concílios já tinham se consolidado - mesmo tendo, na maioria das vezes, causado cismas - o que limitava consideravelmente o âmbito das especulações teológicas. Além do mais, o debate intelectual, e consequentemente teológico, entre Oriente e Ocidente, tornou-se raro a partir da segunda metade do séc. V, por conta do desmanche do império romano, mas também devido às incompatibilidades linguísticas: o latim nunca chegou a se firmar no Oriente como língua falada ou escrita e o grego perdeu gradualmente sua importância no Ocidente - o que pode ser evidenciado pelo fato de Rufino de Aquiléia e Jerônimo (final do séc. IV, início do V) serem os últimos Padres da Igreja a escreverem em ambas as línguas.  

Pois bem, poder-se-ia pensar que o fato de Gregório Magno ter vivido em tal época tenha sido uma barreira para sua produção teológico-literária; afinal, como ser um grande teólogo sem ter ao seu redor com quem dialogar, ou sem grandes questões teológicas sobre as quais refletir? 
No entanto, não foi o que aconteceu. A produção teológico-literária de Gregório é a mais prolífica entre os Papas da antiguidade. Se por um lado, questões teológicas de grande profundidade e complexidade não são discutidas em suas obras, sua contribuição homilética é considerável, por exemplo. Sua contribuição para a consolidação da liturgia ocidental é incomensurável, e sua atuação pastoral é igualmente grandiosa. 
Somente nos últimos 13 anos de sua vida, que coincidem com os anos de seu papado, Gregório escreveu mais de 850 Cartas. Dentre os sermões a ele atribuídos que são hoje julgados autênticos,  tem-se 40 sobre os Evangelhos, 22 sobre Ezequiel e 2 sobre o Cântico dos Cânticos.  Não se pode deixar de citar a famosa Magna Moralia - uma espécie de comentário sobre o livro de Jó - os Diálogos e a Regra para os Pastores, obra na qual Gregório fala da essência do trabalho episcopal, contrastando o papel dos bispos como pastores e suas posições nobiliárquicas dentro da Igreja.

Apesar de sua importância para a história da Igreja, há ainda muito a se descobrir e a se pesquisar em relação a Gregório. Esse post, por exemplo, tem como simples objetivo falar brevemente de sua produção teológico-literária. Poderíamos passar semanas aqui falando, por exemplo, das contribuições de Gregório para a liturgia. Quem sabe num próximo post.