terça-feira, 20 de setembro de 2011

Sobre o "daimon" do Evangelho de Judas

Um vídeo de uma palestra sobre o Evangelho de Judas que vi no facebook de um colega esses dias me fez querer rever o documentário feito pela National Geographic sobre o texto em questão. Não consegui revê-lo até o fim, é muita bobagem e mentira juntas num só documentário. Triste mesmo é ver estudiosos renomados contribuindo com isso...
Já escrevi bastante sobre o Evangelho de Judas aqui nesse blog, quem quiser ler mais, pode fazer uma pesquisa ou clicar aqui
Mas enfim, dentre as muitas bobagens e erros divulgados pela National Geographic em relação ao Evangelho de Judas, creio que a mais absurda tenha sido a tradução do termo grego daimon (CT 44, 21). Na primeria edição do texto, publicada logo após o lançamento do próprio documentário, ainda em 2006, o termo em questão foi traduzido para o inglês como "spirit"; a edição brasileira - que, diga-se de passagem, não é uma tradução feita diretamente do copta, mas do inglês para o português - feita pela Ediouro, utilizou o termo "espírito". Os estudiosos da National Geographic justificaram a tradução em questão evocando o daimon de Socrates.
É obvio que o fato de Jesus chamar Judas de "décimo-terceiro demônio" não combinaria com a interpretação que a National Geographic queria enfiar na guelha do leitor, interpretação essa que dizia que o Evangelho de Judas apresentava uma nova imagem de Judas, uma imagem positiva, e uma nova versão para traição. Mas basta ler o texto com atenção para ver que essa interpretação não se sustenta.
De qualquer modo, traduzir o termo daimon num texto cristão como espírito é, no mínimo, inusitado. No conjunto da literatura cristã antiga, o termo é quase sempre - e eu arriscaria dizer sempre - utilizado de maneira pejorativa, negativa, para designar um ou mais demônios. Por que logo no caso do Evangelho de Judas o significado seria diferente? Vale lembrar que o próprio Evangelho de João chama Judas de "diabo" (em grego, diabolos) uma expressão análoga, convenhamos.
Enfim, depois da avalanche de críticas dos outros estudiosos e especialistas, a edição crítica da National Geographic, publicada em 2007, substituiu o termo "spirit" na tradução pelo termo técnico grego, transliterado, "daimon". Na tradução francesa presente na mesma edição e feita por R. Kasser, optou-se por traduzir o termo como "démon" (demônio, em português). No index de termos coptas, feito pelo próprio Kasser, apresenta-se "demônio" como primeiro significado do termo em questão (pág. 343 da edição crítica), sem, no entanto, descartar a possibilidade de traduzí-lo como "espírito", tradução essa que consta no mesmo verbete do mesmo index.
Parece-me, no entanto, não restar dúvidas de que a tradução correta do termo seja mesmo "demônio".   


terça-feira, 13 de setembro de 2011

Textos em copta atribuidos a João Crisóstomo

Para comemorar o dia de São João Crisóstomo na liturgia latina, eis um post no site do meu amigo Alin sobre novos escritos em copta atribuidos a esse notável teólogo e pregador da antiguidade: