segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Evangelhos Gnósticos III

Hoje falaremos dos textos que são chamados de "evangelhos gnósticos" mas que não possuem o título de "evangelho" nos manuscritos. Existem dois textos nessa situação: o chamado Evangelho dos Egípcios e o Evangelho da Verdade.
O verdadeiro título que aparece no manuscrito do chamado "evangelho dos egípcios" é "Livro Sagrado do Grande Espírito Invisível". O que houve foi o seguinte, os primeiros editores do texto fizeram uma confusão; há depois do título final do texto em questão, um colofon no qual se lê, dentre outras coisas, as palavras "evangelho dos egípcios" (para quem não sabe, colofon é uma espécie de comentário escrito pelo escriba ao final do texto, mas um comentário do próprio copista, um comentário que não faz parte do texto). Os editores se confundiram e acharam que o colofon era o título do texto, mas não era. Do ponto de vista literário, o Livro Sagrado do Grande Espírito Invisível não é, nem de longe, um evangelho.
O caso do Evangelho da Verdade é mais simples; ele não possui título no manuscrito, mas a primeira frase funciona como um incipit. Na antiguidade o uso de um incipit era muito comum; mas o que é um incipit: as primeiras palavras do texto; o texto era conhecido não por meio de um título formal escrito no início ou no fim do manuscrito, mas por meio de suas primeirras palavras ou frases; isso acontece até hoje com as cartas do Papa, por exemplo. O título do Apocalipse, por exemplo, veio de seu incipit, é fruto de sua primeira palavra. As primeiras palavras do Evangelho da Verdade são: "O evangelho da verdade é alegria...". Daí, seguindo a lógica do incipit, e levando em conta o fato de o manuscrito do texto em questão não apresentar título no , os estudiosos passaram a chamá-lo de "evangelho da verdade".
No que diz respeito ao gênero literário, o Evangelho da Verdade também não é um evangelho propriamente dito, mas uma exposição teológica da chamada doutrina valentiniana.